Arte impressionista, religião, guerras… Descubra os mistérios da Normandia, região francesa que explica o passado e o presente do país.
Quando embarquei para a Normandia, no noroeste da França, um único pensamento insistia em latejar em minha mente: eu estava prestes a conhecer o cenário de dois acontecimentos históricos pelos quais tive particular interesse ainda nos tempos do colégio.
Em primeiro lugar, o Dia D, como ficou conhecido o 6 de junho de 1944. A data marcou o desembarque das tropas aliadas – lideradas pelos EUA – nas praias normandas para a reconquista da Europa durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
Em segundo, um dos capítulos da Guerra dos Cem Anos, que, de forma resumida, foi o embate travado entre a França e a Inglaterra na tentativa dos franceses de recuperar os territórios perdidos para os ingleses no século 15 – e que resultou no martírio de Joana D’Arc.
Mas a verdade é que eu não tinha a noção exata dos encantos dessa parte da França. Para mim, ela ainda era um mistério, tão indecifrável quanto a real personalidade de Joana D’Arc, tida como bruxa por uns e, mais tarde, elevada a santa padroeira da França.
Cenários
Mais do que me sentir próxima a esse passado, a Normandia me apresentou outras vertentes tão interessantes quanto o seu legado histórico. Afinal, ela é de uma natureza pródiga, revelada em sua costa com 600 km de extensão e nas paisagens rurais de plantações de maçãs e de campos apinhados por vaquinhas normandas.
Também é repleta de castelos medievais, tem forte representação religiosa, oferece excelente gastronomia regada a bebidas só encontradas ali e, acima de tudo, é o reduto da arte impressionista.
Com 1.100 anos de cultura, a região já acolheu centenas de ícones da literatura, da pintura e do cinema. Nas letras, por exemplo, é a terra natal de Gustave Flaubert, Guy de Maupassant e Pierre Corneille.
Na pintura, inspirou mestres do impressionismo como Claude Monet, Paul Gauguin, Eugène Boudin e Raoul Dufy. A vocação artística é, em parte, herança da remota presença dos vikings, que, vindos da Dinamarca e da Noruega no século 9, trouxeram influências então exóticas e deflagraram uma sutil transformação na cultura local.
Eles também deixaram seus rastros na arquitetura. Enquanto os ricos tinham casas de pedras com inúmeros quartos, os menos favorecidos as construíam com madeira, palha e argila, dando origem ao colombage, o estilo arquitetônico que ainda prevalece nas construções.
Tudo de uma elegância que combina com o que se espera da França, ainda que esteticamente diferente das outras regiões do país.
Giverny, a porta de entrada
A Normandia ocupa uma área relativamente grande dentro da França, com o mesmo tamanho da Bélgica, o país vizinho. Ela começa a menos de uma hora de carro ou trem de Paris e se estende até o Canal da Mancha, o ponto mais sobressalente ao norte do território francês em direção à Inglaterra.
De um lado fica a artística Alta Normandia, que compreende os departamentos de Eure e Seine-Maritime, onde estão as cidades de Giverny, Rouen, Etretat, Évreux e Le Havre.
Do outro, a charmosa Baixa Normandia, com os departamentos de Calvados, Manche e Orne, e os destinos Lisieux, Caen, Deauville, Trouville e Honfleur. Entre elas, o romântico Rio Sena, que marca a divisão territorial.
A pequena vila de Giverny, a 75 km da capital parisiense, recepciona quem chega às terras normandas. Foi nessa cidadezinha, aliás, que o pintor Claude Monet, criador do impressionismo, viveu por 43 anos ao lado de sua esposa Alice Hoschedé e de seus oito filhos.
O artista pintou compulsivamente as paisagens da vila e o lugar se transformou na representação viva de seus quadros. Assim, prepare-se para apreciar arte, muita arte.
Passeios culturais em Normandia
Ao caminhar pelas ruas dá para ter uma clara ideia de suas inspirações. A Fundação Monet, por exemplo, onde estão a casa e os jardins que o próprio pintor criou para retratar em suas pinceladas, é um regalo aos olhos.
Muitas das espécies plantadas ali aparecem em seus quadros mais famosos, a exemplo da série Ninféias. Além disso, no interior da fundação também está guardado o maior número de cópias das obras de Monet.
Para ver alguns originais, contudo, é preciso ir ao Museu de Arte Americana. Além de exemplares de Monet, o lugar exibe trabalhos de jovens pintores americanos que se instalaram na vila com a intenção de aprender o ofício do mestre do impressionismo.
Outra referência de arte é o Museu do Impressionismo, parada obrigatória para entender as origens e a diversidade do movimento artístico que imperou durante os séculos 19 e 20.
Muito do que está exposto em suas paredes mostra as belezas do Rio Sena e de outros lugares da Normandia. Mas é preciso ficar atento à agenda de funcionamento dessas três atrações: elas ficam abertas somente de abril a novembro.
Entretanto, em qualquer época do ano é possível visitar o restaurante Les Jardins de Giverny, a 500 m da Fundação. Instalado em uma casa centenária, ele é referência em gastronomia no vilarejo.
A comida é servida em campânulas (utensílios em forma de sino) de prata e a especialidade é o foie gras com maçãs ao molho de calvados (uma bebida típica da região) acompanhado de pão de gengibre. Uma receita para saborear como se estivesse diante de uma obra de Monet.
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Deauville, Trouville e Honfleur
Deauville e Trouville são duas cidades-balneário separadas apenas por uma praça e uma estação ferroviária. Se não fosse pelo aviso da guia, certamente eu não me daria conta dessa linha quase imaginária que existe entre as duas.
Primeiramente, surgiu Trouville. De um vilarejo de pescadores desconhecido ganhou visibilidade nas obras do pintor Charles Mozin, que então, a partir de 1825, instituiu as paisagens locais como a inspiração favorita de seus quadros.
Em seguida, a fama chegou a Paris, e a cidadezinha – que tem um centro antigo e atraente rodeado por cafés e restaurantes, um porto do século 17 e um mercado de peixes, – tornou-se o destino praiano dos parisienses endinheirados. Ela também é o litoral mais próximo da capital – apenas duas horas de carro ou trem.
Mais tarde, em 1860, o Duque de Morny (meio-irmão de Napoleão III) e três amigos decidiram construir a “estação balneária perfeita”. Assim surgiram as mansões e o hipódromo que hoje embelezam Deauville, uma cidade elegante, reduto da aristocracia e símbolo da art de vivre francesa.
Hoje, com 4 mil habitantes, chega a recepcionar até 50 mil visitantes por dia na alta temporada. A maioria vai para ver e ser visto nas praias que ficaram conhecidas mundo afora pelos guarda-sóis coloridos que salpicam nas areias e pelo calçadão chamado de “Les Planches” – apinhado de bares e restaurantes.
Cinema
Tinham me avisado de que ali eu poderia topar com celebridades da música e do cinema francês. Será que era a minha chance de encontrar Audrey Tautou, Vincent Cassel e Carla Bruni? Por azar, não vi ninguém.
Então, tive de me contentar em apenas checar cada uma das cabines construídas na orla e que receberam os nomes das estrelas de cinema convidadas no Festival de Filmes de Deauville.
O evento era, aliás, uma das razões da minha visita à região. Fui convidada a assistir às avant-premières e às projeções dos longa-metragens americanos que competiam à premiação da 37ª edição. Com direito a entrada em tapete vermelho e tudo.
O mesmo por onde já haviam passado Shirley MacLaine, Michael Douglas, Brad Pitt, Angelina Jolie e Francis Coppola. Nessa hora, tive meu minutinho de fama: não me contive em acenar para as centenas de pessoas que, por algum motivo que desconheço, me fitavam como se eu fosse a próxima ganhadora do Oscar de Deauville.
Além do cinema, boa parte dos visitantes se dirige ao balneário para aproveitar as corridas de cavalos e partidas de polo realizadas em dois hipódromos, o Deauville-Clairefontaine e o Deauville-La-Touques.
Este último é mais antigo que a própria igreja central e, há cem anos, sedia o Torneio Internacional de Polo, a quarta maior competição desse esporte no mundo.
O golfe é outra atividade comum em Deauville. A cidade abriga quatro campos com desenhos e estilos bem distintos, a exemplo do instalado no Hôtel du Golf Barrière. Esse hotel é também um endereço para se hospedar com estilo. Com 178 acomodações, um restaurante e um bar, ele se destaca pela arquitetura que mistura o colombage e o xadrez anglo-normando.
Às compras
Igualmente caprichada é a outra unidade da rede, o Normandy Barrière. O hotel ficou imortalizado no filme A Primeira Vez de um Homem e em mais 50 produções cinematográficas gravadas ali, mas não é somente pelo estrelato que ele se tornou um dos preferidos em Deauville.
A localização o deixa perto do agito, das compras e do sofisticado Casino Barrière de Deauville, uma construção de 1912. O cassino conta com 356 máquinas caça-níqueis e centenas de jogos de mesa, além de abrigar três restaurantes, dois bares, cinema, teatro e o Clube Brummell, uma das opções mais concorridas para curtir a noite no balneário.
Do Normandy Barrière não é difícil acessar a Place Morny, uma réplica da praça do Arco do Triunfo, em Paris.
Ela é o ponto de partida para rodar as butiques de design e espiar as vitrines das lojas de grife como Hermès, Louis Vuitton e Chanel – só para citar algumas. Sim, espiar! Pois diferentemente da capital francesa, Deauville não é um destino para encher as sacolas com artigos de marca em promoção. Afinal, os preços praticados não são nada compensadores.
Por isso, para encontrar vantagens, a opção foi seguir para Trouville ou esperar pela feirinha realizada ao ar livre, no centro, às terças, sextas e sábados.
Comida marinha
Depois de muito andar, a Place Morny também se transforma no ambiente perfeito para sentar nas mesinhas dos restaurantes e bares. O Le Café de Paris, por exemplo, tem um ar descontraído e um cardápio repleto de pratos à base de frutos do mar fresquinhos.
Além disso, boa parte dos pescados servidos nos centros gastronômicos de Deauville vem das águas de Honfleur, uma cidadezinha a apenas 15 km. Quem caminha por suas ruas estreitas e graciosas não imagina que ela nasceu como um lugar estratégico de defesa contra invasões inglesas.
Isso porque está próxima à região do Canal da Mancha e onde, mais tarde, foi construído o Eurotúnel, que liga Paris a Londres por trem.
Pelas ruas
Com mais de 1.500 anos, a história de Honfleur é repleta de prosperidade e de arte de primeira qualidade. Suas ruelas e casinhas de madeiras coloridas estão registradas em diversas telas de artistas impressionistas, como Monet e Boudin. Alguns desses quadros estão expostos no Museu Eugène Boudin – uma visita recompensadora, de fato.
Vibrante e descontraída, não é de se estranhar que a cidade tenha exercido um importante papel cultural na França. Mais uma vez, a guia francesa que me acompanhava listou uma série de nomes de artistas célebres que eram “figurinhas fáceis” por ali: o poeta Baudelaire, os pintores Camille Pissarro, Renoir e Cézanne e o compositor Eric Satie.
Motivos para eles se inspirarem havia de sobra: Honfleur tem o porto mais simpático da França. A parte antiga se concentra em uns poucos quarteirões em volta dele. Dessa forma, uma hora de caminhada a pé foi mais do que suficiente para percorrê-la toda e conhecer suas principais atrações, como a Igreja Sainte-Catherine, construída inteiramente em madeira.
Datada do século 15, seu teto chamou a minha atenção, pois tem formato de um casco de barco. A esquisitice arquitetônica carrega uma razão inusitada: como está à beira do Fleur (como são chamadas as águas que banham algumas cidades francesas), ninguém sabia outra técnica que não fosse a mesma utilizada na construção de embarcações.
Assim, com um jeitinho aqui e outro ali, o santuário ganhou a tal cobertura nada convencional.
Curiosamente também, a cidadezinha foi preservada dos desastres da Segunda Guerra Mundial. Portanto, por onde se olha, ainda é possível ver as fachadas originais das casas centenárias, levantadas com vigas de madeira e que lembram muito o estilo de moradia escandinava – vale dizer que os vikings dominaram esse pedaço da França há cerca de mil anos.
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Rouen
Se em Deauville pude experimentar o verdadeiro sentido da art de vivre francesa, em Rouen minhas expectativas estavam concentradas na história. Isso porque o passado da cidade está ligado à Joana D’Arc, a guerreira e mártir que comandou um exército de 4 mil homens em nome da defesa da França.
Ali foi o teatro do martírio da personagem, condenada e queimada viva em 1431, aos dezenove anos de idade, na praça do Vieux Marché, o Mercado Velho. Não foi difícil descobrir onde esse episódio se desenrolou.
No local do fatídico acontecimento foi erguida a Igreja de Joana D’Arc, em 1970, que não deixa dúvida: seu teto curvo lembra chamas. Ao lado dela também há uma cruz que identifica o exato lugar da execução.
Como era de se esperar, não existia indício algum que remetesse ao triste fato – apenas uma estátua discreta da Santa Joana D’Arc.
O jeito, então, seria visitar o Museu Joana D’Arc, que exibe maquetes, livros e a reconstituição da armadura e do estandarte usado pela heroína, além de uma galeria de cera com uns cinquenta personagens que fizeram parte da vida dela.
Além de Joana D’Arc
Mas o legado histórico de Rouen não se resume à Guerra dos Cem Anos. Ao contrário de Honfleur, a cidade não foi poupada dos ataques alemães durante a Segunda Guerra. Ou seja, todo o centro foi destruído e muitos dos prédios seculares ao redor também.
O Palácio da Justiça, levantado no século 15, foi uma dessas construções devastadas. Reconstituído, o que se vê hoje foi um trabalho que durou 50 anos para ser finalizado.
Felizmente, 2 mil casas de madeira que embelezam o centro antigo ficaram imunes aos bombardeios. Juntas, elas compõem um tesouro arquitetônico que está entre os mais valiosos da Europa. Mais de 100 delas foram erguidas antes do século 14.
Além disso, a cidade também exibe maravilhas da arquitetura sagrada. A cidade dos cem campanários abriga a igreja mais alta da França, a Catedral de Notre-Dame, que começou a ser erguida em 1145. A estrutura central, no entanto, só foi finalizada no século 14 e as torres, no 16.
Plantada diante dela por alguns minutos, compreendi as razões que fizeram Monet se instalar em um escritório bem em frente para retratá-la em diversos horários e luzes do dia. É uma construção em estilo gótico imponente, maltratada pela ação do tempo, é verdade, mas que continua a exibir a mesma beleza mostrada na série A Catedral de Rouen, feita pelo artista.
Há outros exemplares religiosos importantes: a Igreja de Saint-Ouen, datada de 1380, e a pequena Igreja de Saint-Maclou, de 1432, ambas com o mesmo ar gótico.
Símbolos arquitetônicos
Nesse mesmo estilo apresenta-se, ainda, o Hôtel de Bourgtheroulde. Instalado em um palácio urbano que pertenceu à família Le Roux no século 16, sua fachada mistura padrões góticos e renascentistas.
Se por fora lembra uma construção medieval, por dentro, a decoração ultramoderna, com paredes vermelhas, luminárias aos montes e móveis contemporâneos deixa claro que é um hotel cinco estrelas pra lá de atualizado.
No bar ao lado do hall de entrada o chão é de vidro e, abaixo dele, uma gigantesca piscina permite acompanhar todo o agito do andar de cima.
Minha intenção, nesse momento, era visitar o Museu de Belas Artes, que tem uma das mais ricas coleções de pintura, escultura e artes decorativas do século 15 ao 20. Dentro das diversas salas, obras de Caravaggio, Modigliani, Velásquez e Monet estavam entre as mais disputadas pelos olhares dos visitantes.
Mas nada se comparava à curiosidade de estar diante do quadro “La Vierge Entre Les Vierges”, de Gerard David, considerado o mais importante em exposição.
A poucos quarteirões do museu está o maior símbolo de Rouen, o Les Gros Horloge (ou o Grande Relógio), um edifício renascentista do século 16 cuja moldura foi toda pintada com folhas de ouro. A atração fica sobre um arco construído de um lado a outro de uma rua com mais de 2 mil anos de história e, em seu interior, funciona um museu.
Modernidade
Além da riqueza de atrações históricas, essa região também tem seu lado moderno. A cidade é banhada pelo Rio Sena e oferece bons passeios de barco. Essa é uma maneira romântica de desvendar a localidade, já que, até agora, tudo era bem fácil de percorrer a pé.
Algumas embarcações contam com excelentes opções para refeições a bordo, mas vale a pena experimentar a culinária em terra firme. Afinal, Rouen é reputada por sua excelente gastronomia.
O Restaurant Gill, um dos mais famosos da cidade e próximo à margem do rio, oferece pratos sofisticados, que misturam massas e frutos do mar feitos nos moldes da cozinha francesa.
A vantagem de comer ali é que ele está na mesma região onde se concentra o comércio. Certamente um motivo a mais para se embrenhar pelas centenas de lojas espalhadas pelas ruas medievais e cheias de charme para encher as sacolas.
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Lisieux
A razão para chegar a Lisieux, uma cidadezinha medieval de pouco mais de 22 mil habitantes, está em seu legado religioso. Isso porque ali viveu Teresa Martin, canonizada Santa Teresinha do Menino Jesus, em 1925.
A casa onde a jovem morou permanece aberta à visitação. Na Les Buissonnets, como ficou conhecido o endereço da família de Teresa a partir de 1877, ainda é possível encontrar pertences intactos, como os brinquedos e as roupas da santa.
No primeiro andar fica o famoso quarto em que a Virgem Maria teria exibido um sorriso a Teresa, ao curá-la de uma doença rara.
A Basílica
Considerada a segunda mais importante padroeira da França (a primeira é Joana D’Arc), também foi homenageada com a construção do maior santuário religioso da Normandia e um dos mais imponentes erguidos na Europa no século 20, a Basílica Santa Teresinha. De longe, ainda na estrada, tive certeza de estar próxima a ela: o majestoso santuário se destaca na paisagem da pequena e pacata Lisieux.
Com capacidade para 4 mil fiéis, ela começou a ser levantada em 1929 e só foi finalizada em 1954. Por dentro, o seu estilo neobizantino é apresentado em proporções exatamente iguais: 95 m de altura, 95 m de largura e 95 m de comprimento.
Em seus muros e criptas cobertos com mosaicos, as mensagens de bondade da santa refletiam como um conselho para quem não consegue tirar os olhos da arte que preencham o teto e as paredes. Em seu interior encontrei também um relicário cedido pelo Brasil logo após a beatificação de Teresa, em 1923.
Um dos milagres atribuídos à santa diz respeito, aliás, ao santuário: a igreja sobreviveu resistindo a mais de 150 bombardeios na Segunda Guerra. Por sinal, é bem provável que esse milagre tenha se estendido a toda a Normandia.
Um lugar que foi palco da mais famosa batalha na mais cruel e sangrenta de todas as guerras surpreende a todos com sua formosura, sua placidez e sua riqueza artística e cultural.
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Terra de maçãs e queijos
Não espere encontrar nos menus da Normandia os típicos pratos franceses como foie gras (patê de fígado de ganso) e escargot (feito com caracóis). No cardápio de especialidades normandas imperam receitas simples, à base de maçãs e queijos.
Dizem, inclusive, que em nenhuma outra parte da França se produz laticínios como ali. O segredo parece estar no leite da espécie de vacas trazidas pelos vikings no século 9, que se diferenciam pelas manchas ao redor dos olhos, que lembram óculos.
Para deixar bem claro a procedência dos produtos, muitos levam nomes de cidades e comunas da região, como por exemplo os queijos Livarot, Pont l’Evêque e Neufchâtel.
Mas o “famosão” é o Camembert, que com sua crosta esbranquiçada, interior pastoso e sabor mais suave que os outros. A bebida que o acompanha é a sidra, produzida a partir da fermentação da maçã.
Além dela, há o calvados, uma espécie de aguardente, também de maçã, que só existe na Normandia. Tanto ele como o pommeau, um aperitivo que mistura as duas bebidas, são muito usados como facilitadores da digestão.
O costume é finalizar almoço ou jantar com um pequeno copo de um dos digestivos para garantir bem estar até a próxima refeição. Afinal, para um normando, comer bem chega a ser um dever.
Dia D e a batalha decisiva
Omaha, Utah, Juno, Gold e Sword… Assim foram batizadas por americanos e britânicos as cinco praias mais estratégicas do litoral da Normandia durante a Segunda Guerra Mundial.
Se hoje elas se enchem de banhistas no verão europeu, naquele 6 de junho de 1944, tudo o que havia eram barreiras de aço para conter tanques de guerra e fortificações nazistas. Muitas delas – tanto que eram conhecidas como “A Muralha do Atlântico”.
Mas nada disso conseguiu segurar as tropas americanas, britânicas e canadenses que por volta de seis da manhã começaram a desembarcar nas areias, sob fogo pesado das metralhadoras e canhões de Hitler. Quem viu o filme O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, certamente se arrepiou com a cena inicial, que retrata esse momento.
Mas o que nem todos sabem é que essa batalha inicial da reconquista europeia contou também com grande participação dos habitantes locais.
A pedido de espiões aliados, muitos deles sabotaram linhas telefônicas das tropas alemãs na noite anterior à invasão, explodiram pontes e acolheram paraquedistas americanos jogados atrás das linhas inimigas.
Na praia apelidada de Omaha, hoje um monumento relembra as batalhas do Dia D e das semanas seguintes. Todo ano, no 6 de junho, americanos, ingleses, canadenses e franceses se reúnem ali para uma cerimônia. E para celebrar a vida e a liberdade.
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