As estacas fincadas por uma longa faixa de areia da Praia do Forte indicam que ali é um ninho de tartaruga. Os visitantes podem chegar pertinho, xeretar, mas devem respeitar as marcações para não assustarem as tartarugas marinhas, que nos meses de setembro a março desovam em diferentes pontos da costa brasileira. Essa é uma época extremamente atraente para ir à charmosa vila situada a pouco mais de 50 quilômetros de Salvador.
Apesar da proximidade com a capital baiana, a Praia do Forte destoa do que costumamos entender por Bahia. Música alta na praia, jet-ski, ambulantes nas areias, passeios de bugue e axé são coisas que não se vê. Por ali, a preocupação ambiental é quem dá as cartas.
O trabalho de preservação fica a cargo do Projeto Tamar, cuja base da Praia do Forte é a maior do Brasil. Nas áreas de reprodução, os pesquisadores monitoram os ninhos e patrulham a praia à noite para acompanhar as fêmeas. Na época da soltura, quando as tartaruguinhas seguem para a água – na clássica cena que imortalizou a ONG – os visitantes correm para as areias com suas câmeras fotográficas em punho na tentativa de registrar cada momento.
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As crianças adoram, os adultos também, mas a beleza da cena não mascara a realidade: de cada mil filhotes, apenas três chegam à fase adulta. Eles são mortos por predadores naturais, por rede de pesca ou pela poluição dos mares, quando acabam ingerindo lixo despejado nos oceanos.
A situação poderia ser ainda pior se não fosse o árduo trabalho que o Tamar realiza há três décadas. No ano passado, quando completou 30 anos de atividade, a organização comemorou a condução de mais de 10 milhões de filhotes ao mar. Apesar do número expressivo, as tartarugas marinhas ainda constam na lista dos animais em risco de extinção.
A base do projeto na Praia do Forte foi aberta em 1982 e, desde então, esse trechinho do litoral baiano tornou-se um símbolo de preservação ecológica. Não demorou muito para atrair os olhares das grandes redes hoteleiras, que passaram a unir serviços de alto padrão com ações voltadas ao cuidado ambiental. Esse foi o grande impulso para desenvolver o turismo no local. Assim, a região deixou de ser passeio de um dia para os turistas que estão em Salvador, para se tornar o destino principal da viagem.
O primeiro a ser construído nessa linha foi o Praia do Forte Ecoresort, em 1985, que começou a trilhar a fama internacional da área. Há seis anos, ele foi adquirido pela rede Tivoli, que deu um banho de loja e de luxo ao empreendimento, hoje Tivoli Ecoresort Praia do Forte. Em 2006, foi a vez da rede espanhola Iberostar lançar o Iberostar Bahia e, dois anos depois, o Iberostar Praia do Forte, situados lado a lado. Os dois hotéis do complexo são cinco estrelas e funcionam no sistema all inclusive. O Praia do Forte ainda leva o título de Premium e agrega em seu sistema “tudo incluído” regalias como whisky 12 anos (sim, ele é servido à vontade!).
Juntos, eles somam mais de mil apartamentos, nove restaurantes, campo de golfe, piscinas, spa, kids club, quiosques que preparam comidinhas rápidas e bares seco e molhado, de onde saem a todo instante drinques geladinhos e muita água de coco – são nada menos do que 65 mil cocos consumidos todos os meses.
O trecho de praia que emoldura o conjunto não é de água calminha, como em outros pontos do litoral baiano; pelo contrário, por ser de tombo e com ondas, o repuxo é frequente. Não é à toa que muitos hóspedes acabam preferindo se refrescar nas águas tranquilas das piscinas, cercadas por coqueiros e espreguiçadeiras.
Dá para passar o dia inteiro ali, à beira d’água, saboreando coquetéis e se acabando nos quiosques que fazem vatapá, moqueca e acarajé. Mas o cardápio do Iberostar Praia do Forte vai muito além de comida típica. A gastronomia é um dos pontos fortes do empreendimento e figura entre os motivos que ajudaram a alavancar o sucesso da rede no país. A variedade (e a fartura!) dos pratos servidos no restaurante Pelô, que atende no esquema de buffet no café da manhã, almoço e jantar, chega a impressionar.
É possível perder longos minutos ali, olhando para todas as cumbucas e travessas até decidir o que escolher: pode ser massa preparada na hora, paella, churrasco, pizza, pescados, além de diversos tipos de saladas e doces.
No jantar ainda funcionam três restaurantes à la carte, o Mai Tai (oriental), Do Lago (francês) e um baiano, o Odoiá. Não é preciso pagar nada a mais, porém é exigido reservas e os hóspedes têm direito a um número limitado de vezes que podem aproveitar as noites em cada um deles. Outro ponto forte é o golfe clube. Projetado pelo papa do assunto, o renomado escritório do designer P.B.Dye, o campo se estende por mais de 6.800 metros, abrangendo uma área com dunas naturais. Palco de importantes torneios da categoria, o campo não é exclusividade para quem está hospedado – a área é aberta a todos que estiverem interessados em jogar ou aprender nas clínicas de golfe voltadas para iniciantes.
O sabor que a praia tem
O complexo está situado a três quilômetros do centro da vila da Praia do Forte, local onde está a sede do Tamar e a famosa avenida de paralelepípedo Antônio Carlos Magalhães (ACM). Há traslados de van que saem do hotel e táxis – ou quem desejar pode ir caminhando pela areia. Na hora que a dobradinha sol e praia cansar, aproveite para conhecer o charmoso vilarejo.
O calçamento de pedra da ACM e a sequência de lojas, ora boutiques como Osklen e Salinas, ora tendinhas de biquínis, cangas e de artesanato local, lembram Búzios, mas com um tempero baiano e um sotaque diferente. No caso da lojinha Paraíso dos Gulosos, de produtos naturais e típicos, é o sotaque italiano que mais se escuta. Chega a ser irônico que um lugar que vende pimentas, manteiga de garrafa, cachaças artesanais, geleias, cocada e licores pertença a um casal de europeus.
A história de Massimo Buccoliero e Virginie Tesolin com a Praia do Forte começou em 2008, quando visitaram a região. Em poucos meses, eles voltaram para o balneário baiano de mala, cuia, os quatro filhos e decidiram abrir um negócio. Eles resgataram algumas receitas de família e começaram a produzir geleias, mas com sabores bem regionais como jenipapo, jambo e cajá, e o Limoncello, licor de limão característico do sul da Itália. Hoje, não há quem visite a ACM sem parar lá para comprar alguma coisa.
Sucesso também faz o Bar do Souza e o seu crocante bolinho de peixe. Com duas unidades na vila, uma grudada na sede do Projeto Tamar e outra na Avenida, o bar é o lugar mais animado para curtir os fins de tarde e as noites de verão. Música ao vivo, caipirinhas geladas e muito bolinho e casquinha de siri garantem o sucesso da noite.
A oferta de sabores da vila vai muito além da culinária caiçara. Por lá se come muito bem e a área virou palco de festivais gastronômicos. Restaurantes italiano, japonês, de comida baiana e pequenos bistrôs se encarregam de atender os turistas que vêm de todas as partes do Brasil e do mundo. Esse é o caso do Terreiro Bahia, da chef Tereza Paim. O restaurante tem a cara da Bahia – é colorido e aconchegante – e a decoração com peças de antiquário, santinhos e artesanato típico dão muita originalidade ao espaço. Entre as sensações do cardápio está o prato Trilogia Baiana, um mix delicioso de camarão, lagosta e peixe.
As associações de artesãos também aproveitam o movimento da vila para exporem seus trabalhos. Fonte de renda para diversas família que vivem no município da Mata de São João, onde situa-se a praia, os artesãos fazem arte com o que a natureza fornece e a criatividade permite. Sementes de açaí e de Pau Brasil transformam-se em colares e pulseiras, palha de piaçaba vira bolsa e palha de coco ganha a forma de cestos e jogos americanos.
Tartarugas e baleias
O Centro de Visitantes e o Museu Aberto da Tartaruga Marinha do Projeto Tamar são a principal atração da vila. Entre tanques e aquários, são 600 mil litros de água salgada, que reúnem exemplares da fauna marinha, com destaque, é claro, para as tartarugas. Das cinco espécies de tartarugas marinhas que existem no país, quatro são encontradas na Praia do Forte e podem ser vistas na base da ONG.
De hora em hora acontecem visitas guiadas pelos reservatórios e os monitores e biólogos explicam os hábitos e costumes de cada animal. Apesar da tartaruga ser a grande sensação, as arraias e os tubarões também fazem sucesso, principalmente quando os visitantes são liberados para passar a mão. Os tubarões-lixa podem ser tocados no momento em que são alimentados.
Próximo à saída, no espaço Submarino Amarelo (com entrada paga à parte), os visitantes conhecem, por meio de vídeos e projeções, mais sobre os animais marinhos que vivem nas profundidades. Nos tanques, há exemplares de Peixe-Bruxa, Grótula- Barbata, baratas do fundo do mar e outras espécies pouco conhecidas. No final do passeio, a lojinha do projeto vende as tradicionais camisetas, pelúcias, chaveiros e canetas com a simbólica tartaruga.
A apenas 20 minutos de caminhada do projeto ficam as piscinas naturais do Papa-Gente. Na maré baixa, a área parece um aquário gigantesco, com muitos crustáceos e peixes coloridos. São duas piscinas principais, com profundidades que variam de três a seis metros, abertas para quem desejar mergulhar.
Máscara e snorkel podem ser alugadas no Projeto Tamar e os nativos também oferecem os apetrechos aos interessados em nadar ali. Outra figura ilustre que chega todos os anos a nossa costa é a baleia Jubarte, que migra para o litoral da Bahia para se reproduzir entre os meses de julho e novembro.
Ela também tem o seu Centro de Visitantes marcado por um esqueleto de 13 metros de comprimento. O espaço conta com um anfi teatro moderno em que vídeos e documentários explicam mais sobre os hábitos desse gigantesco cetáceo. É dali que partem os passeios de escuna para observá-las. As excursões demoram de três a quatro horas as embarcações tentam chegar bem pertinho, para alegria de quem está a bordo.
Para acrescentar um pouco de história à viagem, vale a pena incluir no roteiro o Castelo Garcia D’Ávila. Considerado uma das primeiras edificações portuguesas no Brasil, o Castelo começou a ser construído no século 16 e serviu de morada ao fidalgo Garcia D’Ávila. Apesar do nome, não chega a ser um castelo, nem um forte, mas uma grande casa que foi sede do maior latifúndio do país na época, e que acabou dando origem a um dos vilarejos mais charmosos, autênticos e ecologicamente corretos do Brasil.
- Tarcila Ferro viajou a convite do resort Iberostar Praia do Forte
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