Seja na alta gastronomia, nos lanches de rua ou nos chamados food halls, Chicago brilha talvez como nenhuma outra cidade americana quando o assunto é comida. Tanto que constantemente é descrita como a “capital da gastronomia”, seja do Meio Oeste, dos Estados Unidos ou mesmo do mundo. E ela brilha mesmo: são 20 restaurantes agraciados com estrelas pelo Guia Michelin, sendo um com a pontuação máxima, o Alinea. Nele, o chef Grant Achatz flerta com a gastronomia contemporânea, criando menus degustação que parecem obras de arte coloridas e ornamentadas, ao preço mínimo de US$ 295 por pessoa.
Mas a gastronomia de Chicago é democrática e não exige que você desembolse quantias astronômicas para comer bem. Com bem menos, talvez você não aprecie receitas estreladas, mas certamente consegue provar o que há de mais típico na cidade. Começando coma famosa deep dish pizza, que mais parece uma torta, com borda bem alta e super-recheada com queijo derretido e molho de tomate pedaçudo. Outros ingredientes coroam essa bomba calórica de acordo com o sabor escolhido. Pepperoni está entre os mais pedidos.
Em meio à oferta onipresente, dois restaurantes brigam pelo topo do pódio: o Lou Malnati’s e o Giordano’s. O primeiro, de 1971, sai à frente alegando ser detentor da receita original, com massa amanteigada atraindo turistas e moradores a suas várias filiais pela cidade. Mas aí entra na jogada a Uno Pizzeria, de 1943, que clama para si o posto de “berço da deep dish pizza”, já que o patriarca dos Malnati trabalhava lá quando Ike Sewell criou a receita. Em suma: é o tipo de peleja saborosa que, no fim (perdão pelo trocadilho), acaba em pizza. Ainda bem!
Chicago: gastronomia nas ruas
Polêmica tempera também outra iguaria local, o cachorro-quente ao estilo de Chicago, presente em várias barraquinhas de rua, como as do Millenium Park, e em lanchonetes como a Portillo’s. Por definição, o hot dog aqui deve levar sete ingredientes. São eles: salsicha bovina, picles, salde aipo, pimenta-verde, cebola, mostarda e tomate no pão com sementes de papoula. E aí entra a controvérsia: nada de colocar ketchup! O costume, tão popular no resto dos Estados Unidos e no mundo, é uma verdadeira afronta à etiqueta local.
Ainda falando em sanduíches, outra especialidade por aqui é o Italian beef, que parece a nossa boa e velha carne louca – pão com carne desfiada e pimentão – e que pode ser provada em lugares como o Jay’s Beef. Por fim, fazem sucesso as pipocas Garrett, nascidas na cidade e com lojas no mundo inteiro. São vários sabores, mas o mais famoso é o de cheddar com caramelo.
E, em Chicago, até mesmo redes internacionais atingem outro patamar. Na Magnificent Mile, fica a maior loja Starbucks do mundo, enquanto no West Loop, o McDonald’s inaugurou sua nova sede em 2018, com um menu global, trazendo sanduíches e guloseimas exclusivas de vários países. O nosso McFlurry de Prestígio já deu as caras no cardápio, que é rotativo.
Pilsen e a comida étnica
Um bom jeito de conhecer a diversidade da gastronomia de Chicago são os food tours guiados da Food Planet. Além de permitirem provar amostras de diferentes comes e bebes, ainda exploram regiões étnicas, como Chinatown e Pilsen. Neste último, apesar do nome que remete aos primeiros imigrantes tchecos que ocuparam o bairro, hoje é a comunidade mexicana que marca presença, colorindo os muros com grafites temáticos e temperando as mesas com sabores típicos.
Enquanto conta curiosidades e histórias de Pilsen, o guia vai conduzindo a caminhada e fazendo paradas estratégicas em restaurantes familiares, durante de três horas. Alguns dos lugares visitados são o Rabanitos (para brindar o começo do tour com uma margarita deliciosa); o Fiesta Tamaleria El Barrio (para provar os surpreendentes tamales, que lembram pamonhas salgadas com recheio de frango ou carne); o Los Comales (para tacos e horchata, bebida dulcíssima à base de arroz); o Uruapan (para carnitas); e, por fim, o Señoritas (para finalizar com o bolo tres leches). Custa US$ 85 por pessoa, já incluindo os comes e bebes (chicagofoodplanet.com).
E, se Pilsen tem sangue latino correndo em suas ruas, no bairro de Andersonville é a Suécia que dá as caras, graças ao imigrantes que aqui chegaram no século 19. História contada no Swedish American Museum, situado na Clark Street, a principal do bairro. Mas não é só a bandeira sueca que flamula por aqui. Afinal, as cores do arco-íris também marcam presença, sinalizando uma das mais expressivas comunidades LGBTQIA+ de Chicago. Assim, Andersonville ganha uma personalidade única, intercalando pequenos negócios escandinavos com bares gays,além de restaurantes e cafés para todos os públicos. Não à toa, foi escolhido como o bairro mais cool dos Estados Unidos em 2021 – e segundo do mundo –, de acordo com uma pesquisa feita pela revista Time Out.
Food halls
Essa mesma publicação, por sinal, abriu recentemente em Chicago uma filial de sua rede de food halls, nascida em Lisboa como forma de revitalizar o antigo Mercado da Ribeira. O conceito, espelhado em várias cidades do mundo, propõe uma praça de alimentação moderninha, com grandes mesas para compartilhar, rodeadas por estandes de chefs e restaurantes selecionados. A ideia é reunir em um único endereço alguns dos melhores exemplares gastronômicos do destino em questão.
Lamen, hambúrgueres, barbecue, pizza e sushi estão entre as opções no Time Out Market de Chicago, que fica no badalado bairro de Fulton Market. Antes, era conhecido como uma zona de galpões industriais – daqueles típicos casos de gentrificação que transformam áreas podrinhas em redutos jovens e boêmios. E também empolo gastronômico: aqui estão concentra-dos restaurantes, bares e cervejarias do momento, dignos de levar o “hipsterômetro” às alturas. Vide o restaurante Fulton Market Kitchen, tomado por grafites, onde drinques criativos embalam o menu de inspiração internacional.
Culinária compartilhada
Restaurantes onde a proposta é pedir vários pratos pequenos para compartilhar são a tendência da vez na gastronomia mundial. Em Chicago, duas ótimas recomendações nessa toada ficam na região de West Loop, no trecho da Randolph Street conhecido como Restaurant Row. O nome sugestivo dá uma ideia da notável concentração de opções gastronômicas. Uma delas é o Proxi, de ambiente moderno e jovem, bom para bebericar, paquerar à meia-luz e compartilhar comidinhas que viajam pelo mundo, buscando inspiração oriental, mexicana, indiana e por aí afora.
A poucas quadras dali, no Girl & The Goat, a chef celebridade Stephanie Izard também bebe de fontes internacionais para compor um menu de pequenas porções compartilháveis. Além de trabalhar muito bem com todo tipo de carne – de ostras a cabra, de pato a porco, de salmão a vaca –, a equipe da cozinha faz maravilhas com vegetais que você jamais imaginaria tão deliciosos. Vide as couves-de-bruxelas fritas e as vagens salteadas, por exemplo. Tanto no Proxi como no Girl, tudo desce muito bem acompanhado de drinques autorais, que honram a tradição coqueteleira de Chicago. Eis, então, o quinto elemento, ao qual precisamos brindar: a bebida.
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