Dos grandes bailes à lista de hóspedes estrelados, o Copacabana Palace sempre brilhou com um símbolo do Brasil para o mundo.
Um hotel construído a pedido de um presidente da República. O pedido não era para erguer um hotel, mas “o” hotel, que pudesse resplandecer a beleza do Rio de Janeiro e colocar o Brasil na rota do turismo internacional.
O presidente em questão era Epitácio Pessoa, que comandou o país de 1919 a 1922, época em que o Rio ainda era a capital nacional. O sonho do chefe de estado encontrou paragem junto ao empresário Octávio Guinle, que comprou a ideia, desde que pudesse operar um cassino no local.
É com essa introdução à trajetória do Copacabana Palace, pertencente ao grupo Belmond, que o tour histórico corre pelos ambientes do hotel.
Oferecido aos hóspedes gratuitamente, o passeio reconta as memórias do Copa: desde a concepção da obra, passando pelos bailes mais comentados e pelos hóspedes figurões, até sua piscina instagramável.
Afinal, são as lembranças de um século que ali residem que tornam a experiência de hospedagem realmente única.
Matéria-prima importada
Tombado como Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, o hotel mais icônico do Brasil tinha prazo para ficar pronto. A construção começou em 1919 e a ideia inicial é que fosse inaugurado em 1922, como um presente para as comemorações dos 100 anos de independência do Brasil.
Mas o tempo não foi suficiente para o porte dessa empreitada – atrasos na importação do mármore de Carrara, vindo da Itália, e dos lustres encomendados da antiga Tchecoslováquia foram alguns contratempos na execução.
Era de se entender, afinal, quase tudo usado na construção precisou cruzar o oceano para chegar: o cimento veio da Alemanha, os cristais da Boêmia, os tapetes da Inglaterra, e da França os móveis e porcelanas de Limoges.
“Tudo aqui é peça única, não existe reposição dos pisos e dos lustres, por exemplo”, conta Emerson Honorato, Gerente de Atendimento e Treinamento do Copacabana Palace, que conhece como poucos os detalhes do hotel.
Da França também veia a base para o projeto, criado pelo arquiteto Joseph Gire. Os elementos da arquitetura clássica com toques das construções mediterrâneas foram inspirados nos hotéis Negresco, em Nice, e Carlton, em Cannes.
Como eles, o Copa foi pensando para ser um palácio à beira-mar, e o que havia de melhor em termos de construção e decoração no começo do século 20 foi usado na obra. Um ano depois do previsto, em agosto de 1923, o hotel abriu as portas.
Memória afetiva
À frente do tour, Emerson conduz os hóspedes pelos salões do Copa. “Festas de Réveillon, de carnaval, casamentos, bodas e os concorridos bailes da Vogue são organizados nesses ambientes”.
Ao entrarmos no Salão Azul, um dos 14 espaços disponíveis para eventos, a luz natural de uma manhã ensolarada banhava a sala. O pé-direito alto, o carpete delicado e painéis com cenários da natureza e do Rio, pintados pela artista Dominique Jardy, encarregavam-se do restante da harmonização.
O curioso é que, mesmo sendo a primeira vez hospedada no Copacabana Palace, eu reconhecia os lugares. A memória afetiva trazida pelas novelas, filmes ou mesmo nas coberturas dos grandes eventos fica viva ali.
Especialmente em locais como o Salão Frontal, com suas colunas e os lustres inconfundíveis, e o Golden Room, a primeira sala de concertos da América Latina, palco para artistas como Carmen Miranda, Ella Fitzgerald, Ray Charles e tantos outros.
Hóspedes ilustres
Ao longos das décadas, o Copa acabou virando uma espécie de endereço oficial de personalidades internacionais quando estão no Brasil. Por esse motivo, os holofotes estão sempre a postos na porta do hotel.
Há histórias de Janes Joplin nadando nua na piscina. Lady Di também nadou ali, mas às duas da manhã para não correr o risco de ser fotografada pelos paparazzi.
Rod Stewart decidiu jogar futebol em sua suíte; Walt Disney teve a ideia de criar o personagem Zé Carioca quando esteve ali; o guitarrista da Banda U2 abriu a porta do quarto pelado para pegar a bandeja de café da manhã; Paul McCartney aproveitou os momentos de lazer para correr na esteira…
Emerson engrossa o caldo de histórias: “Tom Cruise transformou a antessala da suíte presidencial em uma academia”, apontando para o espaço durante nossa visita ao sexto andar, a cobertura, endereço das sete suítes presidenciais do Copa.
Hóspedes desse andar têm acesso exclusivo a um terraço e piscina privativos, a famosa Black Pool, que ganhou esse nome por ser revestida de mármore preto. “Essa suíte recebeu o então príncipe Charles e também Madonna”.
Aproveitei para perguntar se o cantor Jorge Ben Jor continua morando lá. “Sim, ele é morador fixo do hotel desde 2018”. O artista teria se hospedado no Copacabana Palace enquanto o seu apartamento passava por uma reforma, mas se apaixonou pelo hotel e nunca mais saiu. O Copa é, indiscutivelmente, um colecionar de histórias.
Centenário, mas atual
Copacabana Palace completou no ano passado 100 anos. E para celebrar o centenário, o hotel passou por algumas repaginações. A primeira delas foi restauração da fachada, que focou em preservar elementos originais de sua construção. Entre as melhorias estão o novo sistema de iluminação que ressaltou os detalhes da arquitetura.
Uma cor de tinta exclusiva, chamada de “Pérola Palace”, foi criada especialmente para a pintura da fachada do Copa.
Piscina instagramável
A outra novidade permanente atinge em cheio o local mais famoso do hotel. A piscina do hotel é um hit carioca e a área ganhou mais cor, conforto e fotogenia com a repaginação dos guarda-sóis, espreguiçadeiras e almofadas.
O projeto é do arquiteto carioca Ivan Rezende, o mesmo que redesenhou o Teatro Copacabana Palace em 2021. O profissional uniu conceitos retrô e contemporâneos e o resultado é um ambiente com ares tropicais, delicadamente decorado e totalmente instagramável.
A estrutura de madeira dos guarda-sóis ganhou cobertura com tecido listrado, forro em estampas tropicais e franjas. As almofadas ganharam tecido verde e bordado de uma folha de palmeira ao centro em tons de amarelo e laranja. A escolha dos tecidos partiu de um estudo para identificar materiais mais resistentes ao calor carioca.
Acomodações do Copacabana Palace
Em mais de 12 mil m2, o Copacabana Palace conta com 239 apartamentos e suítes. Os quartos estão distribuídos entre o prédio principal e o anexo, construído em 1948.
No primeiro, os 145 apartamentos são divididos em dois tipos de acomodação: o Apartamento Superior Vista Cidade, com vista total ou parcial para o bairro, e o Apartamento Luxo Frente Mar, com visual para a Praia de Copacabana.
Alguns apartamentos dessa categoria contam com varanda ao estilo Julieta, voltadas para o mar. Além de terem móveis em madeira de magno, banheiros com pia dupla e revestimento de mármore brasileiro rosa e branco, banheira, camas king size e decoração delicada que exalta a beleza do Rio.
Gastronomia estrelado do Copacabana Palace
Posso dizer que tive duas experiências memoráveis ao jantar no Copacabana Palace. A primeira delas foi no restaurante italiano Cipriani, comandado pelo chef Aniello Cassesse, o prestigiado Nello.
A experiência de provar o menu degustação de nove etapas é acompanhada pelos melhores vinhos italianos, oferecidos pelo sommelier que vem à mesa apresentar as sugestões e abastecer nossas taças.
A apresentação dos pratos é parte importante da experiência, assim como o serviço atencioso e as explicações simpáticas que os garçons dão a cada pequena porção posta à mesa.
O cardápio propõe uma viagem pela Itália e exalta as criações do chef, reconhecida com uma estrela Michelin.
Durante quase três horas, as sugestões chegam à mesa com apresentações inventivas e deliciosamente saborosas: pizza frita, carpaccio de Wagyu, coração de alcachofra com trufa ao creme de ovo orgânico, bacalhau envolto em abobrinha, ravioli del plin com frango e queijo provolone…
A finalização é com o charuto de chocolate recheado de baunilha de Madagascar. Sim, importado da ilha africana direto para o Copacabana Palace.
Sabor oriental
Tão empolgante quanto é o menu degustação do pan-asiático Mee. Também ostentando uma estrela Michelin, conquistada um ano após a abertura, o restaurante comandado pelo Chef Mori foca em dois tipos de cardápio – o tradicional e o vegetariano.
Entre as iguarias estão o crudo de peixe com vinagrete de shissô e tomate, cebola roxa e pó de missô. Além do wagyu sukiyaki, com carne de gado wagyu, espinafre, tofu, cogumelo, cenoura e macarrão udon.
Para finalizar, o Pérgula é o terceiro restaurante do Copa, servindo como endereço para o café da manhã charmoso à beira da piscina, um almoço casual de segunda a sexta e a famosa feijoada de final de semana.
Pedi uma sugestão ao garçom, que indicou a lagosta gratinada ao queijo gruyère. “Este prato foi servido ao ex-presidente Juscelino Kubitschek”, contou-me ele. Com certeza foi, pensei. Pois aqui no Copa até as receitas vêm com história.
Novos proprietários
Em 1989, o grupo inglês Orient-Express, hoje Belmond, adquiriu o hotel da família Guinle. No mesmo ano, o prédio do Copa foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Desde então, passou por várias reformas e revitalizações. Em 2018, o conglomerado francês de luxo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton adquiriu a empresa Belmond.
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