Eu já tinha ouvido falar do ranking de qualidade de vida da revista inglesa The Economist, mas não havia dado muita bola. Enquanto meu avião se preparava para pousar no Aeroporto Internacional de Viena, a ficha caiu: eu estava para pôr os pés na melhor cidade do mundo. Aliás, na metrópole que ganhou esse título ano após ano por toda a última década. Dez vezes seguidas sendo eleita aquela “com mais qualidade de vida no planeta”, conforme uma meticulosa pesquisa que leva em conta as opções culturais e de transporte, o respeito ao meio ambiente, a infraestrutura urbana, a educação, a criminalidade e o equilíbrio social.
Viena faz jus ao ranking, afinal. Comecei a perceber isso ainda no caminho para o hotel. Avenidas amplas, montes de praças e parques arborizados, um rio limpo e lindo entrecortando o cenário. Nada de congestionamento, mas muita gente na rua, de bem com a vida.
Viena futurista
Minha guia me explicaria depois que a sensação de amplidão e liberdade se devia a um sujeito chamado Otto Wagner, que morreu há exatos 101 anos. No final do século 19, quis o destino (ou o imperador) que ele planejasse a Viena do futuro, além de projetar prédios e palácios.
Arquiteto de mão cheia, Wagner redesenhou a cidade pensando em 4 milhões de habitantes – quatro vezes mais do que havia por ali na época. O arroubo de urbanismo foi exemplar. Hoje, 120 anos depois dessa reviravolta, Viena não tem mais carruagens reais adornando o cenário, mas continua com espaço de sobra para gente comum, carros e transportes públicos. Por isso, é uma cidade gostosa de explorar a pé e tranquila de trilhar sobre rodas ou de metrô.
O passeio começou pela Albertinaplatz, uma praça no centro da cidade onde fica o maior posto de informações turísticas – um dos pontos onde você adquire o Vienna City Card. Esse é o bilhete do transporte coletivo, que permite andar à vontade nos ônibus, metrôs e bondes da cidade, além de dar descontos em 210 atrações. A versão de 72 horas custa € 29. Além disso, há modalidades mais caras, que incluem até o transfer de ida e volta para o aeroporto, bem como o ônibus turístico hop-on-hop-off – aquele que vai diretamente a tudo o que há de bacana na capital.
Nada de chucrute
Nem bem saí do posto de informações turísticas e já dei de cara com dois orgulhos locais: o Museu Albertina e a tradicional barraquinha de petiscos Bitzinger. Pois bem, em Viena, faça como um vienense! Assim, joguei-me na fila da deliciosa comida de rua.
Pedi uma burenwurst (linguiça condimentada em fatias) e uma cerveja Ottakringer. Por pouco me safei de cometer uma gafe. O mico coube ao australiano que estava antes de mim na fila. Ele mandou um despreocupado: “Coloca aí um chucrute junto com a salsicha” e em seguida recebeu de volta um sarcástico: “Chucrute? Só a uns 300 quilômetros daqui, num país chamado Alemanha…”
Ops!!! Sim, os austríacos não curtem ser confundidos com seus vizinhos. Na terra de Mozart e Freud, as salsichas são devoradas com raiz forte e mostarda escura. Só isso.
Disney das artes
Guloseima devidamente consumida, parti para alimentar a mente com arte. Bastaram alguns passos para adentrar o Albertina (ingresso: € 16,90). Antes de falar dele, vale uma explicação. Toda grande cidade tem um museu de arte para se orgulhar, correto? Pois Viena tem uma meia dúzia deles. E como se fossem times de futebol, eles têm suas respectivas torcidas organizadas. Ok, talvez seja um exagero chamar assim, mas não faltam grupos muito unidos e empolgados de apoiadores e patrocinadores para cada instituição, sempre mencionados em painéis de homenagem na entrada de cada museu. São eles os orgulhosos responsáveis por cada nova obra de arte adquirida.
Graças a essa admirável rivalidade, Viena se tornou uma Disney das artes. O Albertina, por exemplo, existe desde 1776 e hoje em dia acumula um acervo de mais de 65 mil gravuras, incluindo obras de Michelangelo e Leonardo Da Vinci. Sem falar nas milhares de pinturas de mestres de diversas épocas.
Registros históricos
Logo de cara, deparei-me com uma sala dedicada exclusivamente a Pablo Picasso. Em frente a um dos quadros, um grupo de 15 estudantes, com pouco mais de 10 anos de idade, observava atentamente as explicações da professora, que contava a história da obra “Natureza Morta com Violão”, cunhada pelo mestre espanhol em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial. Uma forma de mostrar à garotada a estupidez da guerra: três anos depois de Picasso finalizar sua obra, o Albertina foi bombardeado de forma pesada e quase todo o prédio veio abaixo. Felizmente, esse quadro ainda não estava lá. Mas muita coisa boa se perdeu naquele terrível março de 1945.
Saí do museu filosofando sobre as belezas e loucuras do ser humano – porque Viena enseja isso. Afinal, não é um lugar de frivolidades e superficialidade. Ali é um grande complexo cultural e histórico, para mergulhar no que a humanidade fez de melhor ou pior ao longo dos últimos dez séculos.
Hofburg
A imponência histórica aparece na paisagem a todo momento. Vide o Palácio Imperial de Hofburg (ingresso: € 15), uma das maiores e mais suntuosas construções da Europa. Ele abrigou a célebre Dinastia dos Habsburgos. Lembra quando seu professor de história ensinou sobre o Congresso de Viena? Pois é, ele aconteceu ali de 1814 a 1815 e, entre outras coisas, ajudou a definir os rumos do planeta ao final das Guerras Napoleônicas. E a Maria Leopoldina, primeira esposa do nosso Dom Pedro I, lembra dela? A imperatriz do Brasil era austríaca e nasceu nesse palácio. As ordens do ataque militar que deflagrou a Primeira Guerra Mundial? Elas partiram de dentro dessas majestosas paredes. Que também testemunharam a transformação do país em uma república, em 1918, e a infame anexação pelas tropas de Hitler em 1938.
Daria para escrever páginas e páginas sobre como o Hofburg e as pessoas que o habitaram influíram nos rumos da civilização ocidental. São tantas histórias e tantas belezas para apreciar por ali que aconselho a reservar um dia todo para essa exploração.
Schnitzel Love
Cansado do meu primeiro dia na capital da Áustria, parti para um programa light: uma aula de culinária no próprio local onde eu estava hospedado, o pitoresco Grand Ferdinand. Esse hotel-butique no melhor ponto da Avenida Schubertring ocupa uma charmosa construção centenária, onde se espalham 186 quartos decorados individualmente, além de três restaurantes.
Um deles é o Meissl & Schadn, de culinária típica, onde a grande estrela é o wiener schnitzel. Trata-se de um bife de vitela bem fininho, duplamente empanado, com ovo, farinha de trigo e farinha de rosca, e depois frito em banha de porco extremamente quente. O resultado é uma carne crocante e saborosa, servida com salada de batatas e molho doce de frutas vermelhas.
No Meissl & Schadn, dá para saborear o schnitzel e também aprender a prepará-lo, em uma aula de uma hora de duração com o premiado chef Jürgen Gschwendtner. Esse divertido mestre-cuca já foi cozinheiro oficial dos camarotes da Fórmula 1, aqueles que presidentes, donos de equipes, artistas e demais celebridades frequentam.
Jürgen, aliás, é conhecido em Viena como “sommelier de carnes” e o restaurante que ele comanda no andar térreo do Hotel Grand Ferdinand recebe os clientes com um painel gigante onde se lê “Schnitzel Love” (“Amor pelo Schnitzel”). A experiência de cozinhar por ali custa € 40 e vale muito a pena, mesmo se você é um completo inepto com as panelas. Ah, e você sai da cozinha com diploma de “Scnhitzel Maker”.
Ao som dos mestres
Uma coisa é importante para o viajante levar em conta. Assim como em muitas outras cidades europeias, tudo acontece cedo na noite vienense. Então, museus, lojas e galerias fecham às 17h. Além disso, é comum ver restaurantes lotados para o jantar às 18h30. Concertos e ópera começam às 19h. E, exceto por alguns bares e baladas específicas, as portas em geral se fecham lá para as 22h.
Mas naquele primeiro dia eu achei outra exceção muito bem-vinda: a Haus der Musik – ou Casa da Música, em português (ingresso: € 14). Esse é um museu megatecnológico e superinterativo sobre o passado musical da Áustria, que fica aberto até as 22h.
Já visitei centenas de museus pelo mundo e achava que nada mais me surpreenderia, mas eu estava enganado. Afinal, como não se fascinar com um lugar que fala de compositores que viveram 200 ou 300 anos atrás com linguagem e estética futuristas? O Haus de Musik é isso. Suas galerias lembram uma nave espacial, em que você viaja ao som de Mozart, Beethoven e Strauss.
Experiências
A escadaria central faz as vezes de um piano, ou seja, cada degrau que você pisa toca uma nota da escala musical. No nicho dedicado a Mozart, computadores pedem para você digitar seu nome. Surpresa: cada letra corresponderá a um compasso recorrente na obra do compositor e o resultado é uma música composta na hora pela máquina, como se fosse o próprio Amadeus brincando de criar a partitura conforme a alcunha do visitante.
Há uma área inteira dedicada à ciência do som, em que você aprende sobre acústica e brinca com as frequências que o ser humano consegue ouvir (spoiler: nosso ouvido é ruim se comparado ao dos nossos cachorros – eles é que deveriam ouvir música clássica!).
E, por fim, a cereja do bolo: um computador que permite ao visitante reger a Filarmônica de Viena. Você não leu errado. Basta subir ao “palco”, de frente para um telão com dezenas de músicos virtuais, e chacoalhar a batuta. Então, câmeras flagram seus movimentos e os traduzem para a linguagem da regência, comandando a performance de violinistas, percussionistas, pianistas e afins… Em geral, o desempenho dos turistas provoca um caos sonoro e muitas gargalhadas. Só assim para entender como é genial o trabalho de um maestro.
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Cidade sonora
Meu segundo dia em Viena começou com uma bela caminhada pela região central, acompanhado de uma guia local. Nem precisa muito roteiro, já que vagando erraticamente pelo bairro de Innere Stadt, você esbarra em marcos históricos e belas edificações, a maioria delas relacionada à música erudita.
É difícil de acreditar, mas Viena tem mais de 120 auditórios dedicados a concertos e óperas, onde pelo menos 10 mil pessoas assistem às apresentações a cada noite. No total – pasme –, são cerca de 15 mil eventos musicais por ano na cidade. E essa tradição vem de longe. Não é à toa que compositores do calibre de Beethoven e Mozart a adotaram no passado.
Impossível não se maravilhar com o prédio neorrenascentista da Ópera de Viena, inaugurado há 150 anos e onde brilharam sumidades como os compositores Gustav Mahler e Richard Strauss, maestros do naipe de Herbert Von Karajan e Seiji Ozawa ou, ainda, cantores como Maria Callas e Luciano Pavarotti, por exemplo.
Igualmente impressionante é a Catedral de Santo Estevão (Domkirche St.Stephan, em alemão), onde Mozart se casou em 1872, apresentou-se centenas de vezes, e foi velado em 1791, quando morreu com apenas 35 anos de idade.
Não somente no centro da capital você esbarra no glorioso passado musical de Viena. No final da manhã, peguei a linha D do bonde e fui parar em Döbling, um pitoresco subúrbio todo arborizado, onde o tempo parece ter parado lá no ano 1800…
Beethoven
Em uma viela está o Museu de Beethoven (ingresso: € 7), instalado no casarão em que o grande compositor morou dos 21 até os 56 anos de idade, quando faleceu. Detalhe: em 2020, completou-se 250 anos de seu nascimento e a cidade entrou em festa, com centenas de eventos programados.
Ludwig Van Beethoven, vale lembrar, não era austríaco – ele nasceu em Bonn, no Reino da Prússia (atual Alemanha). Mas fascinado por Wolfgang Amadeus Mozart, decidiu viver na Áustria, onde respiravam-se música e arte.
O museu dedicado a ele é pequeno, mas garante uma experiência intensa. É emocionante ver e tocar em móveis e instrumentos musicais que foram usados pelo compositor. Também é comovente ler as cartas deixadas por ele, bem como ver as invenções que ele desesperadamente criava para tentar melhorar sua audição, que se perdeu ao longo da vida em consequência de uma misteriosa doença até hoje não identificada.
Ali do lado fica outra atração gastronômica de Viena, o Der Pfarrwirt, restaurante mais antigo em funcionamento da capital austríaca. Instalado em uma construção de 1180, há mais de 200 anos passou a servir refeições, primeiramente como um café e, mais recentemente, como um amplo restaurante.
Não se sabe exatamente se o afamado compositor frequentou o local, mas, de qualquer forma, muita coisa por ali remete a ele, como a área externa, batizada de Jardim de Beethoven. Este foi de longe o lugar mais agradável em que almocei em minha passagem por Viena. E um dos mais deliciosos, aliás. Que tal uma coxa de ganso glaceada com maçã e castanhas cozidas? É o prato típico mais requisitado por lá.
Culinária de Sacher
Só não avancei nas sobremesas porque preferi deixar espaço para um clássico vienense, vendido num dos estabelecimentos mais elegantes da região central: a Torta Sacher. Essa guloseima leva o nome de seu criador, Franz Sacher.
Em 1832, quando tinha apenas 16 anos de idade, ele era ajudante de cozinha e foi incumbido de inventar uma nova sobremesa para um banquete da nobreza vienense. O resultado foi um bolo de chocolate meio amargo, com uma camada de geleia de damasco, servido com chantilly a rodo.
Hoje, a Torta Sacher é oferecida em quase todos os restaurantes, mas a original mesmo, só no chiquérrimo Hotel Sacher, dos herdeiros de Franz.
Belvedere e o Congresso de Viena
Paladar afagado, parti para saciar a sede de cultura. Desta vez, o alvo era o Belvedere, um complexo de dois palácios – o superior e o inferior – que rivaliza com qualquer outra morada real da Europa (ingresso: € 24).
Tombados como patrimônios da humanidade pela Unesco, os dois palácios e seus jardins são um marco da arquitetura barroca. Espanta descobrir que desde 1775 eles desempenham a nobre função de museus de arte – e dos bons.
Diz a lenda que as negociações territoriais e políticas que buscavam pôr ordem na Europa durante o Congresso de Viena, em 1815, volta e meia atrasavam porque os diplomatas e representantes estrangeiros perdiam a hora visitando o Belvedere.
E olha que grande parte do acervo atual nem estava lá ainda. Sabe o pintor simbolista Gustav Klimt (1862-1918)? O palácio superior ostenta a maior coleção do mundo de obras desse afamado vienense – incluindo as mais famosas: O Beijo e Judit I.
Sem falar no Tesouro Medieval, nome com o qual foi batizada a mostra de 150 raríssimas obras de arte da Idade Média, todas em perfeito estado de conservação e capazes de atrair hordas de fãs de artes plásticas hoje em dia ao palácio inferior.
Só não estendi mais a tarde por ali porque havia ainda o ápice de minha jornada para desfrutar: ver um concerto de música clássica em Viena.
A orquestra
O palco escolhido foi o do Musikverein, edifício monumental, construído em 1870 com sua fachada inspirada nos antigos templos gregos. Ele é a sede da Orquestra Filarmônica de Viena, mas recebe celebridades de todo o planeta diariamente.
Na minha noite de gala em Viena, presenciei o Concerto para Piano e Orquestra Nº 3 em Dó Menor – Opus 37, de Beethoven, executado pela Filarmônica de Munique, sob regência do maestro moscovita Valery Gergiev. É isso mesmo, um russo regendo uma orquestra alemã no coração da Áustria com músicos de 15 nacionalidades. Se existe melhor representação do termo “globalização”, eu desconheço…
Dicas!
Aqui abro parênteses para duas informações práticas. Primeiro, o dress code… Ninguém vai barrar você por chegar ao Musikverein de jeans e camiseta. Mas eu fiz isso e me senti constrangido como um penetra numa festa chique… Portanto, no mínimo, um blazer com camisa para os cavalheiros e um vestido para as damas é o que requer a ocasião. A outra dica: não atrase! Aquela informalidade que os austríacos dizem valorizar não se aplica ao tema “pontualidade”.
Eu aprendi isso na marra, porque o exterior incrivelmente belo do Musikverein quase me fez perder o concerto. De tantas fotos e vídeos que me pus a fazer, atrasei-me e fui o último a entrar. Cruzei solenemente o salão lotado para sentar bem na frente, na quarta fileira, ao preço de € 110.
Não é barato, mas vale a pena. Ainda mais porque o Musikverein é considerado um dos três melhores auditórios musicais do mundo em termos de acústica. E isso é algo que não consigo descrever em palavras. Você, leitor, terá que comprovar por si próprio.
Só posso afirmar uma coisa: mesmo não sendo um grande conhecedor de música erudita, viajei por dimensões nunca antes navegadas ao ouvir os solos do violinista Lorenz Nasturica-Herschcowici (o número 1 da orquestra) executados em um instrumento fabricado em 1713 por ninguém menos que Antonio Stradivari – o Pelé dos violinos.
Hora do cafezinho
O epílogo da noite foi também em grande estilo, em outro ícone de Viena – e um dos poucos estabelecimentos abertos até tarde da noite, o Café Landtmann. Com quase 150 anos de tradição, essa charmosa confeitaria colecionou ao longo do tempo habitués como Sigmund Freud, Gustav Mahler, Marlene Dietrich, Romy Schneider, Paul McCartney e Hillary Clinton, por exemplo.
Dois cafés e um apfelstrudel mais tarde, eu estava a caminho do hotel, tentando decidir o que fora mais deliciosamente doce: essa torta de maçã típica ou todas as demais experiências daquele dia abençoado.
A cidade do vinho
No Brasil, não é muito comum ouvir falar de vinhos austríacos, mas a razão está muito mais ligada à quantidade do que à qualidade. Esgotados antes mesmo de serem exportados para fora da Europa, eles são parte importante da gastronomia do país. Para se ter ideia, a própria capital Viena tem nos seus domínios vinhedos capazes de produzir 2,6 milhões de litros por ano – sim, na própria metrópole. Mas a região vinícola mais importante do país está nos domínios de Wachau, mais especificamente no município de Langenlois. Fica a apenas uma hora por estrada de Viena e é a melhor razão para você alugar um carro em sua viagem à Áustria.
Num bate-volta, dá para visitar duas vinícolas de renome internacional: a Hiedler e a Brundlmayer – ambas premiadíssimas, sobretudo graças à uva Grüner Veltliner, um orgulho nacional. Há bons restaurantes perto delas e construções históricas. Se preferir esticar o tempo em Langenlois, existe um hotel dedicado aos amantes do vinho, o moderno Loisium Wine & Spa Resort, a € 190 a diária. Com sua piscina à margem dos vinhedos e seu restaurante bem cotado nos guias, é uma ótima opção para os enófilos.
Cultura que transborda
Meu derradeiro dia em Viena teve (mais) arte, diversão e noitada. Decidi desbravar o lado jovem da metrópole. Em primeiro lugar pelo surpreendente Museumsquartier, um complexo de nove museus e galerias de arte dispostos numa área de 60 mil m² – algo como oito campos de futebol lado a lado.
Mais que um amontoado de museus, é uma experiência cultural viva. Isso porque mais de 730 artistas moram ali, nos seus próprios ateliês, e há grupos de dança, teatro, música e afins.
No Museumsquartier sobressai-se o Leopold (ingresso: € 14) , que reúne a maior coleção de arte moderna e contemporânea da Áustria, com obras de gente renomada como Egon Schiele, Gustav Klimt (olha ele aí de novo) e Oskar Kokoschka. Ao contrário do Albertina ou do Belvedere, este museu ocupa um prédio de ares futuristas – a “Viena do futuro”, como alguns definem.
Como o tempo urgia, peguei um Uber e voei pelas amplas avenidas até outro pináculo do turismo vienense: o MAK – sigla para Museu de Artes Aplicadas (ingresso: € 15).
MAK
Que tal misturar mangás japoneses com jogadas famosas da NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos? Sim, foi o que eu encontrei logo de cara por ali, na forma de trinta e poucas gravuras para lá de chamativas. Esse liquidificador de temáticas, de autoria do australiano Andrew Archer, era uma das exposições temporárias – provavelmente a mais surpreendente que já vi em um museu.
O MAK é assim mesmo, um tapa na cara do tradicionalismo. Seu acervo de design revela desde como eram os móveis da realeza austríaca no século 18 até as invenções mais malucas da atualidade, como o dispositivo que transforma baratas em brinquedos de controle remoto (felizmente, isso aparece apenas em vídeo).
Em um dos ambientes, você interage com as obras de arte e pode criar sua própria gravura digital em um painel de luzes. As crianças vão à loucura. E eu aproveitei a chance para deixar uma singela mensagem do mascote que me acompanha em viagens desde 2011, o cãozinho de pelúcia Parmesolino.
Foi nesse museu que encontrei um dos restaurantes mais agradáveis da cidade, o Salonplafond. Assim como o MAK, esse bistrô inova com releituras da culinária típica vienense. Sempre empregando ingredientes fora do convencional, como a abóbora marinada em um tartar de mignon ou as trufas temperando uma salsicha currywurst.
Escolhi o goulasch com bolinhos de ovos e não me arrependi. Enquanto isso, ao meu lado, algumas pessoas tomavam o café da manhã, mesmo sendo quase 14h. Isso porque o Salonplafond mandou às favas os relógios e serve a refeição matinal – acredite – até as 16h.
Prater
Neste momento, você deve estar pensando: mas e para as crianças, existe algo de muito bacana em Viena? A resposta é… sim! E foi exatamente para lá que me encaminhei ao sair do MAK. O lugar se chama Prater e é simplesmente o mais antigo parque de diversões do mundo em funcionamento contínuo.
Inaugurado em 1895, ele fica não muito longe do Palácio Hofburg, às margens do Rio Danúbio. Ainda preserva alguns dos brinquedos originais do século 19. Entretanto, não espere algo no estilo Disney. Ele é uma atração retrô, com muita coisa legal, sim, mas com ares nostálgicos a cada passada (cada brinquedo tem seu ingresso a partir de € 4).
Seu maior chamariz é sobretudo a roda-gigante, um símbolo da cidade. Com 60 metros de altura, foi inaugurada na celebração do 50º aniversário da coroação do imperador Francisco José, em 1897, e sofreu diversos reveses desde então. Testemunhou a Primeira Guerra Mundial, quando deixou de funcionar por dois anos, e amargou duros bombardeios no final da Segunda Guerra Mundial. Mas resistiu e hoje proporciona a mais fantástica vista panorâmica da capital.
As cabines originais, recuperadas dos escombros no final do conflito, estão na entrada e abrigam uma exposição de miniaturas que contam a história de Viena desde seus primórdios, passando pelo Império Romano, pela Idade Média, pelas guerras contra os turcos e muito mais.
Destaques
Para a gurizada, contudo, o mais excitante são os brinquedos radicais, como a montanha-russa Boomerang, o elevador Prater Tower (que cai de cem metros de altura), a atração aquática Wildalpenbahn e o trem-fantasma Hotel Psycho. São mais de 50 atrações no total, incluindo a filial austríaca do Museu de Cera Madame Tussauds e um caprichado cinema 5-D.
Saí do Prater meio zonzo, confesso. Afinal, não tenho mais idade para ver o mundo girando a 100 km/h. Mas, com o perdão pela indiscrição, recorri no erro e fui ficar fora de órbita de outra forma. Explico: terminei minha jornada vienense nos bairros boêmios de Laimgrube e Neubau, onde centenas de bares, restaurantes e baladas se espalham.
Nas pequenas vielas que cruzam a Avenida Burgasse, feirinhas de arte, comida e bebida (muita bebida) dão o tom, tanto no verão quanto no inverno. Seja para se refrescar com uma cerveja de trigo artesanal ou para se aquecer com o glühwein (a versão local do nosso vinho quente), esse é um lugar ideal para terminar sua passagem pela “melhor cidade do mundo”.
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