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Como é viajar pela Antártica a bordo de um navio de cruzeiro

Chegamos a Antártica a bordo de um cruzeiro de luxo que venceu a passagem pelo Drake, conseguiu atracar nas Ilhas Malvinas e explorou a Patagônia Argentina em 20 dias de navegação.

Passei meu último natal entre leões marinhos, pinguins e duelando entre ondas de seis metros que se chocavam com o navio durante a navegação pela temível passagem do canal Drake. Foi um final de ano bem diferente, preciso confessar, mas daquele tipo que não se esquece.

Embarquei no navio Azamara Quest para uma viagem de 20 dias para a Antártica. De médio porte, o navio oferece experiências de luxo para os hóspedes com ênfase em atendimento personalizado e gastronomia requintada.

Navio Azamara Quest realiza cruzeiros contemplativos para diferentes destinos ao longo do ano. (Foto: divulgação)

Eram apenas 209 passageiros a bordo, o que permitia um cuidado especial da tripulação e do próprio capitão, o sueco Jonas Lyddby, que volta e meia era visto junto aos hóspedes.

Embarcamos em Buenos Aires com destino à Antártica e paradas em Montevidéu, Ilhas Malvinas (Ilhas Falkland), Puerto Madryn, Ushuaia, Punta Del Leste e, por fim, Rio de Janeiro.

Diferente dos navios de expedição que passam vários dias percorrendo todo o continente Antártico com dois ou mais desembarques, o Azamara Quest navegou apenas três dias ao longo da Península Antártica e da Ilha Elefante, permitindo aos hóspedes observar a vida selvagem, sem descer. Trata-se de um cruzeiro contemplativo!

Por dentro do navio

Minha cabine era espaçosa com cama queen e varanda, item que não abri mão por que não queria perder nada das paisagens geladas que desfilariam a minha frente. Por ser uma viagem longa, lavar roupa é necessário e uma lavanderia fica à disposição dos hóspedes para usá-la livremente.

Fora das cabines, os hóspedes circulam animados pelo living, localizado no deque 10. É um espaço aconchegante com convidativa área de estar com sofás e poltronas.

Living room do Azamara Quest. (Foto: divulgação Azamara)

É o lugar perfeito para relaxar, ler um livro, bater papo com amigos recém conhecidos ou simplesmente ficar por ali, contemplando a vista deslumbrante das janelas que vão do chão ao teto.

Integrado ao living, está a sala de jogos, com mesas para carteado e também jogos de tabuleiro e quebra-cabeças com mais de 1000 peças. Vale tudo para preencher 20 dias de viagem.

Outro ponto que merece destaque é o Discoveries Lounge, no deque 5. O lounge tem um bar e música ao vivo todas as noites.

Fica no centro do navio, local escolhido também por boa parte dos hóspedes para passar os momentos de mar agitado. Nessas horas, estar no meio do navio é onde se sente menos o balanço.

Área de lazer e esporte

O giro pelo navio segue até o deque 9, onde encontra-se a piscina e duas banheiras de hidromassagem. É o local ideal para você aproveitar os dias quentes de sol e apreciar a vista deslumbrante do oceano e das paisagens cobertas de neve.

Piscina e banheiras de hidromassagem do deck 9. (Foto: Rodrigo Cunha)

Já a área externa do deque 10 é o local da piscina e da pista de corrida, que apesar de pequena, quebra um galho para quem não quer perder a rotina de caminhadas e treinos. Porém, em diversos dias da viagem ficamos mais tempo dentro do que fora do navio por conta do frio.

O Azamara Quest possui uma boa academia, com aulas de ioga, pilates e um spa integrado a área fitness, que oferece aos hóspedes um cardápio completo de terapias durante toda a viagem. As massagens são pagas à parte (valor médio de US$ 100).

Academia do Azamara Quest. (Foto: Rodrigo Cunha)

Às tardes e em noites selecionadas acontecem shows e apresentações no Cabaret Lounge.

Shows no Cabaret Lounge garantem a diversão dos viajantes do Azamara Quest. (Foto: Rodrigo Cunha)

Porém, as melhores apresentações estavam reservadas para as palestras. Em uma viagem como essa é essencial introduzir os hóspedes a tudo o que eles têm chance de contemplar com relação a fauna, clima e história da Antártica e seu entorno. Para isso, palestras com especialistas convidados pela Azamara enriquecem a viagem.

Pacote de internet no navio

Durante toda a viagem, inclusive quando o navio atracou na Antártica, a internet funcionou muito bem. Comprei o pacote de dados e consegui acessar a internet de maneira eficaz. O custo para um pacote básico, custa cerca de US$ 19,90, por dia.

Gastronomia do Azamara

Por ser uma viagem de 20 dias em um destino distante e de difícil acesso, não criei expectativas com relação a comida. Esperava algo bom, porém repetitivo e sem novidades. Que bom que me enganei. 

Incluso no pacote do cruzeiro, as três refeições são servidas em sistema de bufê, no restaurante Windows Café. É bufê farto e variado para atender o maior número de nacionalidades possíveis. O chef, inclusive, seleciona uma opção vegana exclusiva em todos os restaurantes do navio.

Bufê do Azamara Quest. (Foto: divulgação Azamara)

Restaurantes à la carte

A cada seis noites, os hóspedes podem marcar um jantar em um dos dois restaurantes especiais, como o Aqualina, de gastronomia italiana. A comida é excepcional para um cruzeiro e o menu traz opções como bisque (sopa) de lagosta, costeleta de vitela à milanesa e muitas sugestões de massas.

Outra opção temática é o restaurante Prime C, uma steakhouse que serve um dos melhores cortes de carne que já experimentei em alto-mar. As carnes são assadas ao ponto pedido pelo hóspede, acompanhadas de batata frita trufada e creme de espinafre.

O restaurante também oferece variada carta de vinhos. Para quem optar reservar noites extras para jantar nos dois restaurantes, o valor é de US$ 35, por pessoa.

O Discoveries completa a lista dos restaurantes do Azamara Quest. Foi aqui que vivi as melhores experiências, sendo mimado por coquetéis de camarões gigantes na entrada, o prato principal ficou a cargo do cordeiro grelhado ao alho e risoto de parmesão e creme bruleé para finalizar.

Outras opções como salada de carne de caranguejo coberta com champanhe, escargots à la bourguignonne e filé de salmão assado ao forno, coberto com mel e mostarda, foram a introdução do que virou um banquete em alto-mar.

Já o restaurante Patio, localizado próxima a piscina, abre alguns dias para o almoço, de acordo com as condições do clima. Serve ótimos hambúrgueres com batatas fritas e outras sugestões de comidas rápidas e porções.

Restaurante The Patio. (Foto: Rodrigo Cunha)

Entre as refeições, ainda tinha a opção do Mosaic Café, que se tornou parada obrigatória para o chá da tarde, acompanhado de quiches, sanduíches e biscoitos amanteigados.

Mosaic Café. (Foto: Rodrigo Cunha)

As bebidas, incluindo uma boa variedade de alcóolicas, estão inclusas no pacote básico e o pacote premium é preciso pagar a parte.

Roteiro pela Antártica

Apesar das paradas serem curtas, elas sempre são boas oportunidades de conhecer e entender um pouco mais de cada destino. Ao todo foram 20 dias e 5 paradas, entre elas Ilhas Malvinas, onde foi possível descer.

Colônia de pinguins nas Ilhas Malvinas. (Foto: Rodrigo Cunha)

De acordo com o capitão Lyddby, é algo que não se repete com frequência. Com dezenas de viagens a Antártica no currículo, ele explicou que as condições climáticas nem sempre são favoráveis para descer nas Malvinas. Em Ushuaia pode acontecer o mesmo – ter a descida cancelada por conta de clima ruim.  

Primeira parada – Montevidéu

A primeira parada foi em Montevidéu e fiz um city tour de quatro horas com um táxi que contratei no porto, por U$S 120 para duas pessoas. Fomos ao Estádio Centenário, que sediou a primeira Copa do Mundo de Futebol em 1930, e descemos para conhecer o museu.

Estádio Centenário em Montevidéu. (Foto: Rodrigo Cunha)

Na sequência fizemos um giro pela Praça da Independência (a principal da cidade), o Centro Histórico com esticada até a Catedral, o Palácio Legislativo (sede do Congresso), o Obelisco e o do Mercado Portuário. Ao final do passeio, paramos para almoçar uma autêntica Parrilla Uruguaia.

Catedral Metropolitana de Montevidéu. (Foto: Rodrigo Cunha)

Segunda parada – Ilhas Malvinas

Mas o momento mais esperado da minha viagem estava na parada seguinte, nas Ilhas Malvinas. Atracamos no Port Stanley, pequeno e pitoresco.

Perto dali, existem alguns locais históricos como a Catedral da Igreja de Cristo, marcada por seu arco em forma de baleia, o Historic Dockyard Museum, onde se pode aprender sobre a história das Ilhas Falkland, além do museu Memorial da Libertação.

Para quem deseja um pouco de vida selvagem, o extremo leste do Porto de Stanley é ótimo para observar pinguins, focas, leões marinhos e albatrozes.

Elefantes-marinhos nas Ilhas Malvinas. (Foto: Rodrigo Cunha)

Optamos em fazer um passeio diferente. A bordo de um carro 4×4, percorremos a ilha por cerca de uma hora e avistamos pinguins e elefantes marinhos. No trajeto, pedras geológicas, catalogadas pelo naturalista Charles Darwin durante sua passagem por aqui, eram sinalizadas pela motorista.

Saímos da estrada e atravessamos uma longa área de fazendas e campos a perder de vista e só paramos diante da colônia de pinguins Gentoo, que pareciam estar a nossa espera para serem fotografados.

Tour de Jipe pelas Ilhas Malvinas. (Foto: Rodrigo Cunha)

Nessas situações, a regra é não se aproximar a menos de 3 metros dos animais. O cuidado com o controle de pragas, doenças e a própria segurança dos bichos e o meio ambiente é algo prioritário e reforçado a todo tempo.

Saindo dali, pouco mais de 45 minutos de carro chegamos em Whale Point, lar de uma crescente colônia de elefantes marinhos barulhentos. Durante o trajeto de volta ao navio, a guia nos deu uma verdadeira aula sobre a história e cultura da ilha que foi cenários de disputa entre Argentina e Reino Unido. Inesquecível!

Terceira parada – Porto Madryn

Sem sair do território argentino, nossa próxima parada foi em Porto Madryn, na província de Chubut. Optamos em conhecer o centro e acabei sem conseguir fazer o passeio que nadava junto aos Leões Marinhos, pois já tinha esgotado. Perguntei para outros hóspedes que foram e ao escutar os relatos me arrependi de não ter feito.

O encontro com os leões marinhos é uma aventura única, feita com snorkel e roupa de neoprene. O mergulho acontece na reserva de Punta Loma, área cercada por falésias. Os animais são curiosos e inofensivos, segundo minha mais nova amiga inglesa, “são brincalhões e adoram estar cercado por humanos”. A experiência dura cerca de 45 minutos.

Quarta parada – Punta del Este

Dias depois foi a vez de parar em Punta del Este. A 140 km de Montevidéu, pedida ali foi visitar a Playa Mansa para curtir a longa extensão de areia, convidativa para um relax, com ondas suaves e clima agradável.

Ótima pedida depois de dias de tanto frio e mar bravo. Pertinho dali, cerca de 15 minutos caminhando, está a Playa Brava, local em que os locais surfam e onde está o ponto turístico mais conhecido de Punta, a escultura de La Mano (A Mão), com os cinco dedos gigantes que saem da areia, assinada pelo artista chileno Mario Irarrázaba.

O tour de bike também rende bem por ali, por conta da boa ciclovia que leva até o farol, a igreja La Candelaria e as principais praias.

Quinta parada – Ushuaia

A chegada a Ushuaia foi especial. Com uma vista linda e cercada por golfinhos nos dando as boas-vindas, o Azamara Quest ficou ancorado fora do porto, proporcionando um visual ainda mais incrível para a cidade.

Foi o único porto em que fizemos o traslado em tenders – espécie de bote que auxilia os passageiros no deslocamento até o porto.

Vista de Ushuaia, a partir do barco. (Foto: Rodrigo Cunha)

Dali, segui para o Parque Nacional Tierra del Fuego, gigantesco com mais de 600 km2, que se estende desde o Canal Beagle, ao sul, próximo à fronteira com o Chile, até o Lago Fagnano, na Argentina.

Belas paisagens marcam o Parque Nacional. (Foto: Rodrigo Cunha)

A primeira parada foi no Lago Acigami, com águas cristalinas e cercada pelos Andes chilenos.

São paisagens surreais, daqueles que chovem likes nas redes sociais. Em seguida, paramos no centro de visitantes Alakush, para uma rápida imersão na cultura aborígines, e seguimos para a Bahia Lapataia, conhecida também como a estrada do fim do mundo.

Lago Acigami é a primeira parada do passeio. (Foto: Rodrigo Cunha)

Aqui é o fim da Rodovia Pan-Americana, uma rede de estradas que se estende do norte ao sul do continente. A tradicional foto em frente a placa que marca o final da estrada é obrigatória.

A última parada foi na agência postal dos Correios, que virou ponto turístico por ser a agência postal mais ao sul do continente.

Azamara Quest atracado em Ushuaia. (Foto: Rodrigo Cunha)

Como é a passagem do Drake

Entre as experiências mais aguardada durante a viagem de 20 dias, a passagem pelo Drake era a que eu mais esperava. Drake é a porta de entrada para os viajantes que pretendem conhecer a Antártica e trata-se de uma das regiões oceânicas mais famosas e temidas de todo o mundo.

A passagem do Drake é um dos momentos mais temidos durante uma viagem de cruzeiro pela Antártica. (Foto: shutterstock)

É impossível você se preparar para uma travessia do Drake, pois não tem como prever como ele estará: calmo ou impetuoso?

O Drake é um lugar onde os oceanos convergem. São 5 correntes que se unem em uma estreita passagem e o clima muda em pouco tempo, o que torna a travessia tão perigosa e assustadora.

A Passagem de Drake conecta o Atlântico com o Oceano Pacífico, o que faz com que suas correntes ganhem um fluxo gigantesco de água, que são potencializadas com fortes ventos que chegam a produzir ondas de até 15 metros.

A passagem pelo Drake é um dos pontos de maior ansiedade durante a viagem. (Foto: Rodrigo Cunha)

O sentimento, depois de ler muito sobre ele, era de incerteza. Embora acostumado com navegação, já tenho mais de 25 embarques até agora, temia uma passagem difícil, com muito balanço seguido de enjoo. Mas não foi bem assim.

Atravessei um dos trechos mais temidos pelos capitães apenas com pequenas ondas e ventos fracos. O que podia ser sinônimo de sorte para alguns, para mim, foi de frustração.

A passagem pelo Drake na ida foi tranquila. (Foto: Rodrigo Cunha)

Com o clima bastante favorável, a primeira passagem do Drake (sentido Antártica) foi tranquila, sem remédios e nem balanço. O lado bom dessa parte foi poder avistar baleias, golfinhos, albatrozes e centenas de pinguins e icebergs.

Como foi a volta

Mas como tudo que vai, volta, chegou a hora de enfrentar o Drake no retorno da viagem.

No alto falante do navio, o capitão Jonas avisava da necessidade de retornarmos com 12 horas de antecedência devido as condições climáticas que estavam piorando. Medo, jamais, euforia, muita, afinal, esse era um dos meus objetivos.

Área externa do Azamara Quest. (Foto: Rodrigo Cunha)

Finalmente chegou a hora de conhecê-lo. As espreguiçadeiras da piscina foram amarradas, saquinhos de enjoo estavam por todos os lados e alguns começaram a meditar para se acalmar prevendo o que estava por vir.

Faz parte, afinal, estar em um dos lugares mais perigosos do oceano e não sentir adrenalina seria como andar em uma montanha-russa pela televisão. Qual a graça?

Nossa passagem teve ondas com 6 metros, 10 horas de sacolejo com serviços suspensos e todos os restaurantes e áreas comuns fechadas. O serviço de quarto funcionou apenas em caso de emergências.

Pinguins em iceberg. (Foto: Rodrigo Cunha)

Fomos aconselhados a não sair do quarto e andar na cabine só segurando nas paredes. Abri a porta da cabine para sentir o clima do navio.

Segurando nas paredes, desci alguns deques para poder ver as ondas de perto, mas sem grande sucesso já que o tempo estava fechado e o balanço forte demais.

Durante a passagem pelo Drake o recomendado é ficar dentro das cabines. (Foto: Rodrigo Cunha)

Cruzei apenas com dois tripulantes na escada que me aconselharam a voltar para cabine. Não era hora de aventuras, segundo eles. Com certeza não era, mas era por isso que eu ansiava desde que embarquei. Posso dizer que passei pela “tormenta perfeita”, uma experiência marcante, daquelas que não se apagam com o tempo.

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