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Açores: conheça o arquipélago rústico em Portugal

A personalidade portuguesa de Açores ganha toques selvagens e rústicos em nove ilhas vulcânicas forradas de verde, que flutuam a 1.600 quilômetros do continente.

Mirante da Boca do Inferno em Açores (foto: shutterstock)

Por viajar muito a trabalho, hoje consigo, logo pelas percepções e sensações iniciais de um lugar, ter um indicativo confiável sobre como será a experiência de viagem como um todo.

Mas não foi assim nos Açores, um destino que precisa ser desbravado intensamente e aos poucos para se ter uma noção verdadeira de sua essência. É algo desafiador para turistas estreantes e por isso mesmo surge como opção ideal para aqueles que já estiveram em outras partes de Portugal antes.

Isso porque, diferentemente da também portuguesa Ilha da Madeira, de notável estrutura turística, os Açores estão em outro estágio de admiração: rústico, rural, natural e – por que não dizer – até mesmo selvagem em alguns sentidos.

O viajante que decide ir a esse arquipélago “perdido” no Oceano Atlântico é aquele que almeja aventura em paisagens únicas, em meio ao estilo de vida português que nada tem a ver com o continental.

Portugal, aliás, está bem distante: são 1.600 quilômetros entre Lisboa e as nove ilhas vulcânicas que formam os Açores, onde vivem 250 mil pessoas.

Ilha verde

As ilhas se dividem em três grupos: Santa Maria e São Miguel formam o Grupo Oriental; Faial, Graciosa, Pico, São Jorge e Terceira são as Centrais; enquanto as pequenas Corvo e Flores atendem por Ocidentais.

Ilha de Açores
Ilha dos Açores – Litoral e praias de Santa Maria. (Foto: shutterstock)

Relatos controversos atestam que a primeira ilha a ser descoberta pelos portugueses teria sido Santa Maria, em 1431. Já naquela época, os colonizadores chamaram a nova terra de “ilha verde”, por conta da profusão de tons.

Parte disso se explica pelo clima louco, com chuvas a qualquer momento, que duram dias ou apenas segundos. A umidade do ar é sempre acima de impressionantes 70%, ou seja, água é abundante por aqui.

Por isso mesmo, não se pode ficar abalado com o humor indomável do clima – e nem com a falta de um shopping center ou de uma estrutura pomposa preparada para o turismo de massa. Afinal, a pegada aqui é outra: é a natureza. Então, uma vez aberto a essas experiências, prepare-se para uma coleção de suspiros.

Como chegar

Voamos com a TAP de Lisboa para Ponta Delgada, em pouco mais de duas horas de viagem.

Uma das vantagens da companhia é que ela oferece até cincos noites de stopover gratuito em Lisboa ou no Porto – ou seja, você estende o tempo de conexão para poder aproveitar uma dessa duas cidades antes de voar ao destino final, sem pagar a mais no bilhete.

A TAP tem um passo a passo em seu site explicando como solicitar o benefício. O processo todo é muito simples, basta verificar se o voo é elegível e escolher se quer fazer a parada na ida ou na volta. Além disso, no site também são disponibilizados hotéis e passeios com descontos em Lisboa e Porto.

Como se locomover

Alugar um carro pode ser opção interessante em cada ilha. Com um pouco de estudo e um bom GPS, não há grande dificuldade em explorar as estradas. Há também balsas entre algumas ilhas, além de voos com a companhia Azores Airlines/ Sata.

Esqueça transporte público, pois não leva para vários dos locais turísticos. Se o orçamento permitir, opte por passeios com as agências, que já incluem transporte.

Quanto tempo ficar

Este roteiro propõe combinar três das nove ilhas açorianas, portanto, reserve ao menos cinco dias. Entretanto, é preciso ajustar o tempo caso você queira incluir opções esportivas e de aventuras, como as trilhas.

Vale considerar também que o clima é realmente imprevisível e ter dias extras aumenta a possibilidade de realizar os passeios sem perrengue.

Se a prioridade for escalar o Vulcão do Pico, por exemplo, o ideal seria garantir três dias completos só naquela ilha. Com um roteiro mais amplo de dez dias no total, recomendamos incluir pelo menos uma das Ilhas Ocidentais (Corvo ou Flores), além da Terceira ou de São Jorge.

Clima

Na primavera e no verão (de março a setembro), há um pouco mais de estabilidade climática e menos ventos frios. Ressalvas para os meses entre outubro e fevereiro: o outono é uma roleta-russa, enquanto o inverno é só para os corajosos que não podem viajar em outra época.

Para evitar que o tempo ruim sabote a viagem, uma das soluções para aqueles que forem visitar algum outro destino europeu antes é comprar o voo para os Açores uma semana antes do embarque, mesmo correndo o risco de pagar mais caro por eles. Assim dá para saber com mais precisão como estará o clima.

Mirante em Açores
Mirante da Boca do Inferno (foto: shutterstock)

São Miguel

Depois de duas horas e meia de voo de Lisboa, avistamos terra firme: hora de pisar em São Miguel, a ilha principal. É onde se encontra Ponta Delgada, capital dos Açores.

Ponta Delgada, Açores
Costa Norte nas Flores perto de Ponta Delgada. (Foto: shutterstock)

Aqui, o que poderíamos chamar de centro da cidade são cinco ou seis ruas em torno da Praça Gonçalo Velho Cabral, coroadas pelas Portas da Cidade, um monumento erguido em 1783.

Bem ao lado, a bela Igreja Matriz de São Sebastião exibe o estilo comum a todas as igrejas açorianas: brancas e com traçados escuros conferidos pelas pedras vulcânicas. Não espere agito.

Há no máximo alguns bares e restaurantes razoáveis, lojinhas de artesanatos, de louças e de produtos em cortiça, além de ícones lusitanos, como a rede de pescados e frutos do mar enlatados Comur.

Mas para comer em um lugar charmoso e original, com opções contemporâneas, vale experimentar o pequeno Louvre Michaelense. Quando abriu, em 1904, vendia produtos de Paris, mas agora funciona como um bistrô encantador.

Além de refeições no almoço e no jantar, pela manhã serve um carinhoso “pequeno almoço”, enquanto de noite, capricha no finger food e nos coquetéis criativos. Além disso, usa-se muito o iogurte açoriano, de alta qualidade (já chegaremos às famosas vacas locais).

Água verde e azul

O verde de que tanto se fala nos Açores fica evidente no cartão-postal de São Miguel: o mirante Boca do Inferno. Antes, porém, uma parada obrigatória no mirante Pico do Carvão revela a primeira das muitas sinergias entre o azul profundo do Atlântico e o indescritível verde da ilha. Poucos minutos de carro depois e enfim chegamos à angelical Boca do Inferno.

Pico do Carvão, Açores.
Ilha de São Miguel vistos do miradouro do Pico do Carvão. (Foto: divulgação)

Ah, se as trevas fossem assim, que magníficas seriam! É o cartão de visitas para se apaixonar definitivamente. Dali se abre uma vista inesquecível do Vulcão das Setes Cidades, considerado uma das Sete Maravilhas Naturais de Portugal. Da caldeira central, surgiram outras, como a Alferes, a Seara e a Seca, além de três importantes lagoas.

Reze aos deuses do Atlântico para que tenha sol, o que tornará o cenário ainda mais estonteante. Isso porque a luz natural evidencia o fenômeno singular que ocorre ali, um quase namoro entre uma lagoa azul e outra verde.

Duas vizinhas separadas por apenas alguns metros de terra, mas com cores tão diferentes. Entre as razões que explicam o contraste é que, na verde, por ser mais rasa, algas tomam conta do fundo, o que não ocorre na azul, bem mais profunda. Foi assim que os Açores arrancaram o primeiro de muitos dos meus suspiros sinceros.

Lagoas em Açores
Lagoas verde e azul (foto: shutterstock)

Do mar à lava

Mergulhadores certificados encontram experiências únicas nos Açores. Por aqui a água é fria (20 °C no outono, quando estive lá), sem a presença de corais.

Mas, por outro lado, há a experiência com os dóceis tubarões do tipo baleia e martelo, além de interessantes naufrágios como o Dori, um navio de carga usado durante a Segunda Guerra Mundial. “Os aliados utilizavam dezenas desse tipo de cargueiro para transportar ferro e outros equipamentos, conscientes de que muitos seriam afundados pelos nazistas.

Este não deu sorte, mas está em ótima condição”, explica Bruno Sérgio, biólogo e dono do dive center Best Spot, agência que organizou meu mergulho com cilindro. Tive uma ótima visibilidade de 30 metros e pude ver que o Dori realmente está com a popa quase intacta, rendendo um dos melhores mergulhos de São Miguel.

Além do oceano, também os vulcões protagonizam a natureza local. Só em São Miguel há cinco deles, sendo três ativos: o já mencionado Sete Cidades, o Fogo e Furnas. Neste último, há um passeio de um dia inteiro com a empresa Funtasticazores, que inclui a exploração da cratera, a experiência de provar o cozido (prato típico dos Açores) e a de banhar-se em águas termais.

Encravada no núcleo de um vale vulcânico verde-mágico, a homônima Furnas é a vila mais pitoresca da ilha e também a mais visitada. Pequenina, é bela e de vibe rural.

Culinária

É no restaurante Miroma que se prova o célebre cozido de Furnas, prato cobiçado em Portugal inteiro. A cada noite, nativos se reúnem em um local reservado com grandes buracos no chão, onde depositam carnes de frango, vaca, porco e até bacalhau para cozinhar no calor da terra vulcânica.

Ficam enterrados ali de cinco a seis horas, resultando em um banquete de cortes macios e gosto marcante, guarnecidos com legumes. O passeio permite não só comer, mas também acompanhar o preparo do cozido.

Termas

Depois segue para conhecer algumas das 30 nascentes que geram fontes termais e gêiseres. Na vila de Furnas, fica o lindo parque termal Terra Nostra, cenário de enorme piscina de água marrom, que parece barrenta e assustadora, mas que na verdade deve sua cor à alta concentração de ferro.

Um bálsamo a 39 °C, indicado para tratamentos de pele, redução de dor de cabeça e da pressão arterial. Por fim, o tour é encerrado nas termas Dona Beija, com uma relaxante experiência noturna.

Sentindo-me um novo repórter após o dia recheado com um mergulho terapêutico, um guisado acalentador e um banho termal revigorante, começamos a subir o vales vulcânicos de volta a Ponta Delgada.

No caminho, tem-se uma ideia do quanto São Miguel é orgânica, repleta de vacas de origem holandesa. Elas produzem um dos leites mais respeitados da Europa, pois pastam soltas, de forma natural, e são ordenhadas ali mesmo.

A estrada é polvilhada com pequenos postos de coleta, onde 2.400 pequenos produtores depositam o leite, com seus respectivos códigos de identificação, para ser recolhido e pasteurizado pela cooperativa local.

Além disso, o chá também tem seu espaço na paisagem açoriana, onde reluz a única plantação do tipo na Europa. Campos verdes pintam os planaltos, com diversos hectares da famosa marca Gorreana. Cultivam-se folhas de chá preto e verde, em variedades endêmicas de São Miguel.

Pasto em São Miguel
Vacas oastando (foto: shutterstock)

Gigantes do oceano

Quase 30 das cerca de 80 espécies de baleias existentes no mundo habitam as águas em torno dos Açores. É fácil entender por que há tanta diversidade: estamos isolados em um ponto do Atlântico que marca a transição entre as águas frias do Ártico e as quentes da Linha do Equador.

É uma posição farta de comida, com grandes profundidades, mesmo na orla das nove ilhas, com valas que chegam a descer por até três quilômetros.

O arquipélago se transformou, então, em um santuário para as baleias, e o avistamento delas, uma pérola turística. Mas essa história tem páginas tristes. Até 1986, quando a força do veto da União Europeia entrou em vigor, a cultura da caça de baleias nos Açores era uma das mais ativas do mundo, principalmente nas ilhas Faial e Pico.

Eram outros tempos e o óleo produzido por esses grandes mamíferos era usado para a própria subsistência da população.

Mesmo hoje, com a atividade suspensa e reconhecidamente prejudicial ao meio ambiente, o povo ainda ostenta certo orgulho pela tradição de sua indústria baleeira. Confesso ter achado estranho, mas é importante tentar entender essa relação cultural de longa data como algo que fez parte do passado e da sobrevivência local.

Para o turista, porém, o que importa é esta nova era de respeito absoluto às baleias e da consciência de que o turismo ecológico e sustentável gera muito mais benefícios.

Parte desse assunto é citada na explicação que antecede o passeio de avistamento, aliás. Saindo do porto de Ponta Delgada, os barcos navegam por três horas alguns quilômetros mar adentro. A Futurismo é uma das empresas que oferecem o passeio em São Miguel, com equipes de biólogos a bordo – há ainda a opção de praticar snorkel junto com golfinhos livres.

Recepção especial

O tour acontece em um catamarã grande e confortável ou em um barco inflável a motor, cuja experiência será mais molhada, mas com maior interação e proximidade. O show dos golfinhos é praticamente garantido.

Logo eles aparecem, brincalhões, seguindo a embarcação sem medo de serem felizes. Poucos minutos depois, pelo rádio, nosso capitão recebe o aviso de que há uma baleia-sardinheira na baía – a terceira maior espécie do planeta –, incomum na época do outono. Eis que então ela surge, toda formosa, um pouco distante, fazendo uns acenos para logo desaparecer.

Embora cada espécie tenha sua época de cruzar essa parte do Atlântico ao longo do ano, é constante a presença dos cachalotes nos Açores, onde outrora foram quase extintos pela caça.

Hoje essas baleias vivem tranquilas como verdadeiras damas portuguesas. Ou cavalheiros. Com 17 metros de comprimento, o macho batizado como Mr. Liable (Sr. Provável) parece ter sido contratado pelas agências turísticas para sempre dar o ar de sua graça.

Ele nos encanta por cerca de dez minutos, quando os biólogos a bordo avisam: “Atenção que ele vai mergulhar!” (os profissionais conhecem o comportamento prévio dos animais e também já acertaram o cachê para tal ato). Dito e feito!

Como um pavão do mar, Mr. Liable ergueu a cauda para os céus, pausando para fotos e selfies, e enfim mergulhou para as profundezas, onde ficou por cerca de uma hora antes do próximo respiro.

E lá se foi então o meu sincero segundo suspiro. Antes de ir embora de São Miguel, mais uma respirada profunda se juntou à coleção quando, já na porta do avião, avistei uma vaquinha na cerca do aeroporto – onde mais no mundo isso poderia acontecer?

Baleias no Oceano Atlântico
Baleias Cachalote (foto: shutterstock)

Onde dormir

O Grand Hotel Açores é um dos raros cinco estrelas do arquipélago, no coração de Ponta Delgada. Tem ótima localização, de frente para a marina central e a cinco minutos de caminhada do centro histórico.

Além disso, conta com restaurante requintado e um belo piano-bar no lobby, que traz em sua decoração referências marítimas como quadros de navios antigos e capacete de escafandro.

Pico

Meu próximo destino é a Ilha do Pico. Outro mundo, outras experiências singulares. Uma hora de voo direto desde São Miguel leva a um dos destinos mais espetaculares do mundo dos vinhos.

É onde está também o ponto mais alto de Portugal: o Vulcão do Pico, com majestosos 2.351 metros de altitude. Esses dois predicados – vinhos e vulcão – transforma o Pico em um destino eclético e até ironicamente contraditório, porque cativa ao mesmo tempo enófilos intelectuais e aventureiros em busca de emoção e superação.

Chego no final da tarde à Madalena, a vila principal localizada na parte oeste da ilha. Tenho apenas tempo de conhecer a Gruta das Torres, o maior tubo lávico do país (uma caverna formada por lava vulcânica), com mais de cinco quilômetros de extensão.

O lugar é interessantíssimo, mas o turista penetra por apenas 450 metros – em escuridão plena, não tão aconselhável para claustrofóbicos (ingresso: € 8).

Em seguida, em uma espetacular tarde dourada, acompanhei o pôr do sol em território tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade.

São as Lajes do Pico, uma área mágica, de incontáveis currais de basáltico vulcânicos empilhados à mão, que protegem os vinhedos contra as intempéries, os ventos e as possíveis ondas do Atlântico. Assim, escapa sem querer o quarto suspiro.

Ilha do Pico
Madalena (foto: shutterstock)

O Vulcão do Pico

Ainda embriagado com a magnitude desse terroir, sou avisado pelo simpático guia Mateo, da agência Tripix Azores, para olhar para trás. Lá estava ele, o Vulcão do Pico, até pouco tempo atrás tímido e coberto por nuvens, agora exibido como um soberano pronto para posar para minhas lentes.

Seu topo limpo parecia formar uma pintura inesquecível. Resistir era em vão e lentamente brotava o quinto suspiro provocado pela energia açoriana.

Para quem não se sacia com a pura contemplação, o principal atrativo da Ilha do Pico é a trilha até a cratera central do vulcão, onde há um “vulcãozinho” acoplado. Quase um vulcão dentro de outro.

É o ponto mais desafiador de Portugal, levando entre seis e oito horas de caminhada, o que exige bom preparo físico, além de tênis específicos. Além disso, também há subidas noturnas e a possibilidade de pernoitar lá em cima.

A Tripix Azores, agência de Mateo, organiza subidas por € 65. Junto com a esposa brasileira Raiza de Oliveira, ele é pioneiro em guiar desbravadores nessa jornada, tendo feito mais de 150 subidas ao cume.

Um expert, portanto – inclusive nas condições climáticas de um arquipélago tão hormonal quantos os Açores. Estava tudo acertado para a minha aventura até que Mateo me deu a notícia desalentadora: “Você terá que vir outra vez aos Açores, meu amigo”, dizia, analisando a previsão de tempo feio como quem interpreta a vontade dos deuses.

Se tivesse um dia a mais, teríamos bandeira verde. Foi preciso, porém, aceitar as intempéries e a falta de mais tempo.

Vulcão e vinhedos
Vulcão Pico (foto: shutterstock)

Tour de vinhos

Apesar do tempo pouco favorável, ficou tudo bem. Afinal, Mateo também guia passeios com a temática de vinhos. E não é qualquer vinho. Os Açores rendem uma degustação especialíssima, singular, sobretudo na Ilha do Pico, cuja paisagem de vinhas é tombada pela Unesco.

São ao todo 21 produtores registrados, além de dezenas de pequenos fazendeiros que fazem seu próprio vinho em currais particulares de basáltico, aqueles empilhados manualmente. É um trabalho descomunal gerir tais vinhedos.

Cinco ou seis marcas se destacam pela qualidade, como a Anselmo Mendes e a Azores Wine Company, que tem o chamado Branco Vulcânico, feito de uva Verdelho e da autóctone Arinto dos Açores.

As uvas brancas são destaques da ilha, mas devido à complexidade e baixa produção, os preços são altos. Por isso, tem que preparar o bolso se quiser levar alguns dos melhores vinhos na mala.

Outra vinícola que merece destaque é a pequena Czar. Fortunato Garcia, dono do negócio, explica: “Nosso vinho é um licoroso completamente atípico, pois foge do conceito de vinhos de sobremesa ou colheita tardia, obtendo até 20,1% de álcool de forma natural”, conta.

O outro lado da ilha

O percurso mais lindo do Pico fica no sul, rumo ao extremo leste. Começa, primeiramente, nas Lajes do Pico com a paisagem dos currais de vinhas, passando por aldeias como Ribeiras, antes de chegar à bela Santo Amaro.

Nas Lajes, aliás, o Restaurante Ritinha é famoso por servir os mais frescos pescados e frutos do mar da ilha – o camarão ao alho é sensacional, feito de forma simples e com carinho.

A partir dali, sucedem-se diversos momentos cênicos na estrada, que chegam a se assemelhar aos cenários irlandeses com vales verdes, penhascos, oceano azul profundo e vilas brancas.

Ali cheguei um pouco mais perto do Vulcão do Pico: fui até seu dorso, em um local chamado Casa da Montanha, parada obrigatória de registro para começar a trilha de subida, já a 1.230 metros de altitude.

Uma espécie de refúgio de apoio do parque nacional que o circunda. Foi o mais perto que consegui chegar de sua cratera. Minutos antes chovia, mas com toda a imprevisibilidade do tempo açoriano, os deuses sopraram e o topo se abriu para mim novamente, como se atendessem ao meu último pedido na Ilha do Pico. Involuntariamente, nasceu o meu sexto suspiro, mas não ainda o derradeiro.

Onde dormir

Hotel Caravelas: Próximo ao centro histórico de Madalena, o hotel Caravelas não chega a ter algo de especial, mas garante boa localização, a minutos de caminhada da balsa.

Lava Homes: Já do lado leste da Ilha do Pico, o Lava Homes, na Aldeia de Santo Amaro, tem 14 casas com vistas espetaculares para o Atlântico, além de spa, sessões de ioga e piscina de borda infinita.

É um resort com toque de sofisticação, onde hóspedes
são recebidos pelos proprietários em um ambiente cênico e rural. Para conferir fotos e diárias, clique aqui!

Faial

Trinta minutos de balsa saindo de Madalena, na Ilha do Pico, levam à vizinha Faial, conhecida como Ilha Azul por conta dos tons de hortênsia que enfeitam magnificamente os campos e estradas locais.

Ilha do Faial, Açores

Ilha do Pico com Vulcão Monte Pico, Açores – vista da ilha do Faial. (Foto: shutterstock)

Embora bem menor que o Pico, há muito o que ver em Faial. Afinal, é uma das mais cosmopolitas entre as nove ilhas açorianas.

O porto na cidade de Horta é o terceiro mais visitado do mundo por barcos a vela, já que é a primeira parada com estrutura para quem faz a travessia entre América e Europa pelo Atlântico Norte.

É uma ideia interessante passar uma noite aqui, pois a estrutura de Horta oferece bem mais restaurantes, bares e museus que o Pico.

Para quem não tem muito tempo, porém, vale investir em um tour privado, como o oferecido pelo biólogo Zé Nuno, da agência Naturalist, por exemplo.

Gastronomia

Em Horta, fica um dos mais emblemáticos bares litorâneos do planeta, o Peter Café Sport, com 101 anos de história. Virou célebre como ponto de encontro entre velejadores, que colocavam recados nas paredes do bar, buscando tripulação ou contando sobre suas aventuras.

Uma espécie de rede social dos marinheiros do início do século 20. Ainda hoje há alguns bilhetes pendurados.

Prove o famoso gim local, mas não recomendo comprar os suvenires feitos com dentes ou ossos de baleia, à venda no balcão. Faial era uma das ilhas com intensa indústria baleeira, onde o orgulho do passado ainda persiste.

Próximo a Horta, vale visitar também a praia Porto Pim, uma das poucas de areia. Segundo estudos recentes, a enseada recebeu imensas quantias de microplásticos imperceptíveis trazidas pelas marés do Atlântico, configurando um alerta sobre a crise do plástico que o mundo enfrenta.

Se houver tempo, o restaurante Genuíno é opção interessante de almoço na Horta pela história do proprietário Genuíno Madruga, que deu a volta ao mundo sozinho duas vezes antes de jogar a âncora em Faial e abrir sua casa de frutos do mar.

Praia em Faial
Praia Porto Pim (foto: shutterstock)

Vista do topo

Há diversos mirantes maravilhosos na ilha, como o do Pilar, o da Praia, o do Almoxarife e o do Monte Carneiro, por exemplo.

Com pouco tempo, porém, há dois destaques imperdíveis. O primeiro é ir até o topo da Cadeia do Faial para enxergar as entranhas de um vulcão adormecido. Confesso que os deuses da neblina não estavam em sintonia com minha câmera. A visibilidade era quase zero, mas minha apuração cautelosa valida a recomendação de ir até lá.

Os adjetivos “dramático” e “surreal” expressam o segundo destaque: Capelinhos, o ponto mais incrível de Faial. É onde ocorreu um dos mistérios (como são chamadas as erupções por aqui) mais recentes e impressionantes do arquipélago. Foi em 1957 e durou 13 meses, em proporções inesperadas.

A erupção marítima transformou a paisagem e fez com que a ilha ganhasse 2,5 km² a mais de extensão. O cenário resultante parece de outro planeta, onde, além da costa toda coberta por rochas vulcânicas, chama a atenção um imponente farol.

A seus pés está o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, premiado pelo design arrojado e que conta a história de toda a atividade vulcânica dos Açores e de outras partes do mundo.

O Vulcão de Capelinhos é tão singular que a Nasa anunciou recentemente ter interesse em utilizá-lo como fonte de estudos para uma missão especial a Marte. A agência americana considera os Açores um laboratório vivo para a ciência.

Antes mesmo de saber disso, eu tive realmente a sensação de estar fora da Terra em Capelinhos. E assim se foi meu derradeiro suspiro açoriano…

Vulcão em Faial
Capelinhos (foto: shutterstock)

Onde dormir

Considerado um dos melhores da ilha, o Azoris Faial Garden oferece suítes com vista para o Atlântico, piscina coberta e aquecida e estrutura de resort de médio porte.

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