Ok, sejamos francos: a Etiópia não costuma estar na lista de sonhos de viagem. Mas visitá-la pode ser uma surpresa. Antes de qualquer coisa, esqueça aquela imagem de um país assolado pela fome e pela seca dos anos 1980. Ainda é um país pobre, sim, mas de uma cultura tão rica que até o alfabeto é exclusivo daqui – foi, aliás, o único país africano que os europeus não conseguiram colonizar. Além de ser o berço do café, a Etiópia é conhecida principalmente por abrigar o mais antigo fóssil de um ancestral humano e um inacreditável complexo de igrejas escavadas na rocha. Um adendo interessante, portanto, para quebrar a longa viagem de quem está voando para a Ásia, por exemplo. E sem pagar a mais pela passagem.
Isso é possível com a Ethiopian Airlines, que está completando cinco anos de operação no Brasil. São cinco voos diários e diretos entre São Paulo e Adis Abeba, a capital etíope, de onde é possível seguir para países como Filipinas, Tailândia, Índia, Japão e China.
Os preços, em geral, são competitivos e, de quebra, a companhia cobre alimentação, transfer e uma noite de hospedagem para passageiros cuja conexão no aeroporto de Adis Abeba seja maior que oito horas. Os benefícios são concedidos automaticamente – o passageiro recebe vouchers no momento do check-in, ainda no Brasil. Nesse caso, é preciso estar com o visto etíope em mãos, bancado também pela companhia.
Há ainda a possibilidade de prolongar a parada na Etiópia por até 72 horas sem custo extra, na ida ou na volta, sem pagar nada a mais na passagem – é o chamado stopover. Ou seja, além do seu destino final, você ainda pode conhecer mais um país no meio do caminho usando os mesmos bilhetes. Basta solicitar a extensão no momento da compra on-line ou por telefone com a central de atendimento brasileira. Quem quiser contar com o apoio de um receptivo na Etiópia pode recorrer à agência de turismo da própria companhia aérea, a Ethiopian Holidays, que monta e vende roteiros.
O que fazer em três dias?
Reserve uma noite para a capital Adis Abeba, que está em pleno crescimento e repleta de obras. Aqui, o principal chamariz é o Museu Nacional da Etiópia, onde está o fóssil da australopiteco Lucy, encontrada em uma região do país em 1974. Calcula-se que ela tenha vivido há mais de 3 milhões de anos, sendo provavelmente nosso ancestral mais antigo já descoberto. Os ossos ficam acondicionados em uma caixa de vidro e, ao lado, é possível ver uma reprodução do esqueleto completo. Se você passar a noite na cidade, vale ainda visitar o Yod Abyssinia, um restaurante com bufê de comida típica que tem apresentações de danças e músicas tradicionais da Etiópia – sim, bem naquele esquema “para turista ver”, mas divertido e educativo.
Deixe as outras duas noites para Lalibela, cidade a 645 quilômetros de Adis Abeba, facilmente acessível em voos de uma hora pela Ethiopian. Ela abriga o maior cartão-postal do país: um conjunto de igrejas monolíticas esculpidas em rocha no século 12, a mando do rei Lalibela. Ele queria criar uma “nova Jerusalém” para que os cristãos etíopes não precisassem viajar longas distâncias. Até hoje, Lalibela é local de peregrinação para a Igreja Ortodoxa Etíope – além de ser Patrimônio Mundial da Unesco. O intrincado método de construção é o que mais surpreende no complexo: os templos foram literalmente cavados do nível do chão para baixo, em um único bloco de rocha, ganhando portas, janelas, cruzes, pilares, arcos e outros adornos. Tudo isso levou 23 anos para ficar pronto – dizem que anjos ajudavam na construção à noite
Como visitar as igrejas de Lalibela?
As igrejas se dividem em dois grupos, com ingresso único a US$ 50 (a moeda etíope, aliás, se chama birr e US$ 1 equivale a 27 birres). Não é imperdível visitar todas as 11 igrejas, mas programe-se para fazer uma parte de manhã e a outra à tarde. Não tenha pressa: o calor, dependendo da época do ano, e a altitude podem aumentar o cansaço. Contratar um guia à parte, ali mesmo na entrada, é uma mão na roda e pode custar outros US$ 20. Além de dar explicações em inglês, ele ajuda a se situar no labirinto rochoso formado por túneis e passagens estreitas. Outra figura muito comum é o sapateiro, que fica encarregado de acompanhar sua visita e vigiar seus calçados do lado de fora das igrejas, já que só pode entrar descalço. Ele cobra cerca de US$ 1 pelo trabalho – não que alguém de fato roubaria seus sapatos, mas é uma forma de a população local ganhar dinheiro.
Por dentro, as igrejas são bastante parecidas: à meia-luz, o chão de terra batida é coberto com tapetes, e as paredes, enfeitadas com pinturas religiosas. Em algumas delas, cortinas de veludo vermelho escondem, diz a lenda, tesouros e livros que guardam segredos capazes de enlouquecer. É impressionante o exterior da Igreja Medhane Alem (Salvador do Mundo), mas a mais famosa é certamente a Igreja de São Jorge, por conta de seu formato em cruz. Ela fica um pouco afastada das demais.
Cada igreja tem seu sacerdote (chamado de cura), que você provavelmente vai encontrar parado com uma cruz em riste. É com ela que o religioso abençoa os fiéis – que podem ser vistos encolhidos no chão em posição de reza, no que muitas vezes parece uma espécie de transe. Tirar fotos não é proibido, mas vale o bom senso, afinal ão pessoas que estão ali praticando sua fé. Se for fotografar os sacerdotes, porém, saiba que eles esperam uma pequena “doação” em troca.
O ingresso também inclui um museu minúsculo com várias relíquias antiquíssimas, como vestimentas, cruzes e livros. Infelizmente, não há muitas explicações e o acervo é bastante desorganizado, então uma passada rápida só para ver já resolve.
Onde se hospedar e onde comer em Lalibela?
Lalibela em si é mais um vilarejo do que uma cidade, correspondendo bastante àquele imaginário comum sobre a África. Portanto, é tudo bastante simples, mas a estrutura de hotéis e restaurantes não deixa a desejar, já que esse é o principal polo turístico do país. Nossa recomendação é o hotel Roha, que, apesar de modesto, é confortável e consegue certo charme com a decoração à base de elementos típicos da cultura etíope.
Para provar a culinária tradicional, o restaurante Seven Olives capricha na injera, uma massa circular feita com o grão local teff e acompanhada de uma série de pastinhas, legumes e carnes para comer com a mão. Ali também é possível acompanhar a cerimônia do café ao vivo, em que uma mulher torra e mói os grãos na hora em um cantinho próprio para isso – que você vai ver em vários lugares, desde hotéis até aeroportos.
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