Das grandes capitais da Europa Central, Budapeste é, certamente, a mais autêntica e surpreendente. Com 1,7 milhão de habitantes, o centro político e turístico da Hungria é uma metrópole pulsante, onde marcos históricos se mesclam a arroubos de modernidade. A capital da Hungria é, na verdade, a união de duas cidades: Buda – a região repleta de colinas na margem oeste do Danúbio – e Peste – a área plana a leste do rio. Ambas cheias de charme, história e cantinhos bacanas para visitar.
E o mais interessante: foi habitada por um povo diferente de seus vizinhos em tudo – da língua, que não se parece com nenhuma outra da região, ao temperamento irrequieto, contestador e inovador. São descendentes dos cavaleiros magiares, uma etnia asiática que invadiu a Europa Central no final do século 9º.
O orgulho dessas distantes origens é flagrante. No final da mais elegante avenida de Budapeste, a Andrássy, fica, por exemplo, a Praça dos Heróis, construída em 1896 para celebrar os mil anos da nação húngara. Ela agrega gigantescas estátuas dos líderes das sete tribos magiares que fundaram o país no século 9º.
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Vale lembrar que, ao contrário de Praga ou Viena, Budapeste foi severamente bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial. E também depois dela, quando, em 1956, um levante popular tentou, sem sucesso, tirar o país do comunismo. Ainda hoje, as cicatrizes se revelam na paisagem urbana – podem-se ver desde furos de balas até ruínas moldadas pelos canhões nazistas e soviéticos. Essas sequelas são mantidas propositalmente, para que o passado não seja esquecido.
Assim, o maior orgulho dos húngaros é a constante reconstrução de sua história. Todo ano, parece florescer algum “novo velho bairro”. Ou seja, vizinhanças que estavam degradadas renascem e se tornam cult de um verão para o outro. Renovação é a palavra de ordem nessa que é a mais peculiar capital da Europa Central.
O que é imperdível
Uma visita essencial em Budapeste é o Palácio Real de Gödöllô, situado nos arredores da cidade, perto do autódromo em que se realiza o Grande Prêmio da Hungria de Fórmula 1. Ele foi, no século 19, um dos lugares mais importantes do Império Austro-Húngaro – era o recanto preferido da Imperatriz Sissi, esposa do todo-poderoso Francisco José. Após a Segunda Guerra Mundial, semidestruído, virou um simples quartel das tropas soviéticas.
Quem passasse ali 30 anos atrás jamais imaginaria que aquele prédio pudesse, um dia, ter sido a casa de uma imperatriz. Uma reforma iniciada nos anos 1990 o trouxe de volta a seus dias de glória e, hoje, é tomado não por militares, mas sim por turistas. Rodeado por um parque, tem 23 cômodos, uma igreja, um teatro, uma estufa de flores e o incrível salão coberto, no qual Sissi praticava hipismo.
Menos severos foram os danos ao suntuoso edifício do Parlamento – a mais visitada atração turística da cidade. Ainda assim, marcas de balas e tiros de canhão se perpetuam em sua fachada (fato que só aumenta o interesse por ele). É o maior prédio em área de todo o país. Foi projetado em 1896, à semelhança do britânico Palácio de Westminster, para comemorar o milésimo aniversário da chegada dos cavaleiros magiares.
Para ter ideia de sua grandiosidade, basta ver os números: foram usados mais de 40 milhões de tijolos, meio milhão de pedras preciosas e 40 quilos de ouro na sua fachada. No interior, os visitantes podem ver a Coroa Sagrada da Hungria, que era usada pelos monarcas do país até a chegada da república, em 1918. E, ainda, a estátua de Imre Nagy, o líder da fracassada revolução antissoviética de 1956.
O Parlamento, vale dizer, fica em um ponto geograficamente privilegiado. O prédio foi erguido em Peste, debruçando-se sobre o Danúbio, de modo a ser visto de forma inconfundível de qualquer ponto da margem oposta. Principalmente a partir do Castelo de Buda, a antiga morada dos imperadores, erguida em 1265 nas colinas e remodelada diversas vezes ao longo dos séculos.
Também vale a pena
O Castelo de Buda é outra prova do poder de reconstrução dos húngaros. Em fevereiro de 1945, ele foi o último bastião das forças nazistas. Três dias de bombardeios intensos o reduziram a escombros e, além disso, quase todas as obras de arte e preciosidades de seu interior acabaram roubadas.
Durante quatro décadas, um intenso trabalho de recuperação trouxe praticamente tudo de volta, a ponto de o Castelo ter ganhado o título de Patrimônio da Humanidade em 1987. Hoje, abriga a Galeria Nacional, um museu com o melhor da arte húngara.
Não muito longe dele desponta outra pérola arquitetônica. É o Bastião dos Pescadores, um terraço em estilo neogótico de onde se tem a melhor vista da metrópole – com direito a um panorama deslumbrante do Danúbio, do Parlamento e de toda a região de Peste.
Dali se vê, também, um marco inconfundível: a Basílica de Santo Estêvão. A igreja principal de Budapeste é um importante exemplo da arquitetura neoclássica, com uma cúpula de 96 metros de altura. Seu interior é decorado com mosaicos e filas se formam para ver a mão direita mumificada de Estêvão I, o primeiro rei da Hungria – canonizado pela Igreja Católica por ter convertido seu povo do paganismo ao cristianismo no século 11.
Se ali repousa um motivo de orgulho para os católicos, o mesmo ocorre com os judeus na Grande Sinagoga. Trata-se da maior sinagoga da Europa e, possivelmente, a mais impressionante do mundo, devido ao tamanho e à sua decoração esmerada. Atrás dela, há um emocionante memorial dedicado às vitimas do holocausto.
Mas nada reflete mais a alma festiva de Budapeste que o Spa Széchenyi. Brindada pela natureza com centenas de fontes termais, a cidade ganhou fama, ao longo do tempo, pelas suas casas de banho. A Széchenyi é uma elas – um imenso complexo de piscinas externas e internas com águas quentes sulfurosas, em uma construção de estilo neobarroco, de 1913. Ela compete com outra do gênero, a Gellért, pelo posto de mais disputada por habitantes locais e turistas. E o que é mais interessante: são frequentadas por gente de todas as idades.
Gastronomia e noite
Quem quer uma experiência gastronômica genuinamente húngara tem no Mercado Central o lugar perfeito. O belo edifício de 1896, com sua arquitetura inspirada nas obras de Gustav Eiffel, tem banquinhas que vendem desde o tempero mais tradicionalmente magiar – a páprica – até as conservas típicas de repolho e o tokaji – vinho para servir com sobremesas, feito de uvas típicas da Hungria, propositalmente expostas a um fungo que as deixa docinhas.
No andar superior do mercado, restaurantes servem iguarias locais. É o caso do Fakanál Étterem, um dos melhores (e mais baratos) lugares da cidade para degustar o goulash, o ganso assado e o strudel (que muitos húngaros afirmam ter sido criado ali).
Já o Menza Restaurant é uma viagem no tempo. Decorado à moda dos anos 1970, serve bons petiscos e pratos mais elaborados da culinária húngara, como ensopados e carnes assadas. Tem uma extensa carta de cervejas e lota diariamente (chegue cedo!). Um dos lugares mais agradáveis de Budapeste para comer.
Mas e a noite? Como ela é em Budapeste? Bem, nos últimos 15 anos, algo surpreendentemente agradável aconteceu na capital húngara. O antigo bairro judeu, que por muito tempo ficou abandonado, foi tomado por um movimento conhecido como ruin pubs. Ou seja, jovens empreendedores transformaram as ruínas em bares, baladas, lojinhas de artesanato e restaurantes da moda.
É lá que a noite ferve nos fins de semana, com o colorido dos néons e a música eletrônica e o rock substituindo o cenário sombrio e silencioso. No Szimpla Kert, por exemplo, em vez de mesas, há carrocerias de Trabants, os automóveis simplórios da era comunista. O lugar é uma mistura de centro cultural e balada, com direito a leitura de poemas, performances artísticas e muita música contemporânea.
No verão, outra opção para lá de diferente são as festas nas termas. Algumas casas de banho se transformam numa espécie de “balada aquática” nas noites de sextas e sábados, com direito a DJ e muita animação. Um fenômeno típico do temperamento húngaro, capaz de renascer a cada dia e transformar com criatividade única os marcos do passado em patrimônios do futuro.
Hospedagem e compras
Ao lado do famoso Bastião dos Pescadores, em plena era do comunismo, em 1976, o governo húngaro permitiu a implantação de uma unidade da cadeia norte-americana de hotéis Hilton. Ela está lá até hoje – uma das melhores vistas panorâmicas da metrópole. O prédio histórico, no alto da colina em Buda, permite apreciar o Danúbio, o Parlamento e toda a região de Peste. Não é barato – as diárias estão em torno de € 100. Mas vale a pena.
Outras opções mais em conta ficam em Buda. Como o Best Western Premier Hotel Parlament, localizado na área mais turística da cidade, perto do Parlamento. Ele é uma alternativa na medida para quem viaja sozinho ou para a galera mais jovem, que pretende passar o dia na rua. E as diárias, a partir de € 70, fazem jus a isso.
Agora, quem pode gastar um pouco mais (ou bem mais!) deve experimentar o Iberostar Grand Hotel – um dos mais luxuosos hotéis da Hungria, instalado às margens do Danúbio. Ele tem sua própria fonte de águas termais, que abastece um spa repleto de terapeutas “importados” de toda a Europa, além de oferecer passeios pela cidade em limusines dos anos 1950 e experiências do tipo.
No quesito compras, não espere achar pechinchas. Principalmente no orgulho dos habitantes de Budapeste: a Avenida Andrássy – centro das lojas de grife da capital. Construída nos moldes da Champs-Élysées, de Paris, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco por ostentar calçadas arborizadas, mansões neorrenascentistas e pontos notáveis, como a Casa da Ópera, reconhecidamente uma das mais bonitas do mundo, rival da Ópera de Viena.
Um quarteirão inteiro é dedicado ao compositor Franz Liszt, com bares, auditórios e museu. E, nos últimos anos, foram abertas dezenas de vitrines famosas, como Louis Vuitton, Dolce & Gabbana, Armani e Gucci. Mais em conta são os produtos do Mercado Central. De vinhos a suvenires, dá para achar, mas fique atento, pois ele fecha aos domingos e sábados após as 14h.
Dica para se programar
Nem Hungria, nem República Tcheca exigem vistos de entrada para brasileiros (a menos que você pretenda ficar mais de três meses em um desses países). Basta o passaporte válido por, pelo menos, seis meses a partir do dia da chegada.
A moeda da Hungria é o forint (HUF). Pelo câmbio oficial do Banco Central do Brasil, um real vale 70 forints. Nos locais turísticos de Budapeste, dá para pagar as despesas com euros, mas o troco será sempre em forints – e com uma taxa de câmbio bem ruim. Por isso, vale a pena comprar a moeda local em casas de câmbio assim que você chegar. Para desfrutar das melhores taxas, a dica é pedir uma sugestão do concierge de seu hotel.
Ele, geralmente, saberá quais são os melhores lugares. Exatamente a mesma coisa acontece em Praga com a moeda local, a koruna – ou coroa tcheca (CZK). Melhor comprar uma boa quantidade numa casa de câmbio do que sair pagando com euros. Pelo câmbio oficial do Banco Central do Brasil, um real vale 6 korunas.
E como ir de Praga para Budapeste ou vice-versa? Se você alugar um carro, conseguirá fazer o percurso de 525 quilômetros em cinco horas. Mas lembre-se de que terá de voltar para a cidade de origem para entregar o veículo,
a não ser que esteja disposto a pagar a salgada “taxa de retorno” das locadoras, geralmente em torno de € 100. O meio mais em conta é o ônibus. A viagem (só ida) custa € 23 e dura sete horas e quinze minutos, com nove horários de saída ao longo do dia.
No caso do trem, há sete opções de horário todos os dias para uma viagem que dura cerca de seis horas e quinze minutos e custa € 43 (czech-transport.com). De avião, é apenas uma hora e quinze minutos no voo direto, com preços de passagens que variam muito – de US$ 100 a US$ 500, de acordo com a companhia e a data escolhidas.
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