Mainhattan. O trocadilho que mistura referências ao Rio Main (ou Meno) e a Manhattan deixa clara a vocação de Frankfurt como centro financeiro da Alemanha, bem representada em seus arranha-céus. Não vamos tão alto, é verdade. Nada como os 540 metros do One World Trade Center americano: por aqui, o prédio mais icônico é a Main Tower, com 200 metros – seu mirante e seu restaurante no 53º andar garantem boas vistas panorâmicas. Mas é inegável que Frankfurt seja tão vital para a Alemanha quanto Nova York é para os Estados Unidos. Se bobear, até mesmo para o mundo, já que abriga a sede do Banco Central Europeu e uma das maiores bolsas de valores.
A metrópole é dona do principal aeroporto do país, além de ter boas conexões de trem para várias cidades europeias. É uma injustiça que muitos visitantes simplesmente passem batido por ela, seguindo apressados rumo a Berlim, Munique ou à Rota Romântica. Ela rende nem que seja um pernoite – até porque aqui o visitante já tem um vislumbre do que encontrará referências às Guerras Mundiais e pratadas de salsicha. Acrescentam-se, ainda, toques locais como o famoso vinho de maçã, o molho verde com ovos e o bolo frankfurter kranz, à base de creme de manteiga.
Tudo pode ser feito a pé – o tour guiado oferecido pelo escritório de turismo é uma sugestão, com duas horas de duração finalizadas no topo da Main Tower. Mas comecemos pelo centro histórico (Altstadt), encarnado na Römerberg, uma praça rodeada por casarões de arquitetura típica, onde, durante a Idade Média, aconteciam feiras, torneios e festivais. Bem no meio, reluz uma bela fonte do século 16. A prefeitura funciona ali há mais de 600 anos e uma das casas sediou o primeiro banco de Frankfurt – já nos idos de 1600, a cidade mostrava seu poderio financeiro. Um pouco à frente está a Igreja de São Nicolau, pequena joia do século 13 e uma das únicas estruturas a passar ilesa pela Segunda Guerra. Outra igreja da região, a de São Paulo, entrou para a história por ter servido como sede da Assembleia Nacional, que definiu a primeira constituição democrática da Alemanha em 1848. Hoje, seu interior abriga um belo painel com pinturas representando o desenvolvimento da unificação nacional.
Pouco do que se vê no Altstadt é original: praticamente tudo foi bombardeado e um grande trabalho de reconstrução teve de ser empreendido. Mesmo hoje as obras não param: está prevista para o fim deste ano a conclusão do projeto DomRömer Quarter, que veio trazer vida nova ao centro velho, revitalizando prédios e praças, além de abrir espaço para barracas de comida de rua e artesanato. Também será reaberta a chamada Rota da Coroação, desde a Römerberg até a Catedral de São Bartolomeu – era o caminho percorrido pelos reis do Sacro Império Romano-Germânico, coroados na igreja gótica com torre de 95 metros de altura, entre 1562 e 1792.
Alguns passos separam o centro histórico do Bankenviertel, o distrito financeiro que concentra as sedes das principais companhias internacionais. Ali estão arranha-céus emblemáticos, como o Eurotower (onde faz sucesso a escultura com o símbolo do euro), o Westendstrasse, o MesseTurm e o Commerzbank. A caminhada até lá pode ser feita pelo Zeil, o calçadão comercial exclusivo para pedestres, que reúne endereços como o shopping de fachada futurista MyZeil, a loja de departamento Karstadt e as populares H&M, Zara e Mango. A rua vai desembocar na Alte Oper, o prédio da ópera de Frankfurt. Inaugurada no século 18 e destruída na guerra, ela foi refeita nos anos 1980 e segue na ativa como casa de espetáculos. Nos arredores do Zeil, fica também o Fressgass, distrito conhecido pela concentração de restaurantes.
Sidra, salsichas e museus
Alemanha = cerveja, certo? Bem, nem sempre. Nos bares de Frankfurt, a pedida é o ebbelwei (ou apfelwein), a típica sidra de maçã que vem servida em uma jarra de cerâmica com desenhos azuis (a bembel). O melhor lugar para prová-la é nos pubs do bairro de Sachsenhausen, famoso pelas ruelas de pedra – vide a tradicional Lorsbacher Thal, uma taverna de 1803 que fabrica a própria bebida e ostenta uma carta com 150 rótulos. Escolha uma para acompanhar pratos clássicos, como as salsichas frankfurters, o queijo handkäs e o bife com molho verde.
O vinho de maçã é tão popular por aqui que serve de tema para o Ebbelwei-Express, um bonde colorido que, em passeios de uma hora no final de semana, percorre os principais pontos da cidade, com direito a rodadas de sidra e pretzels. Tem até um festival dedicado à bebida, que acontece sempre em agosto na Praça Rossmarkt. O verão é também época do Festival na Margem dos Museus – as principais instituições culturais se enfileiram à beira do Rio Meno, na área conhecida como Museumsufer e ligada ao centro histórico pela ponte de ferro Eiserner Steg. Nesses dias de clima quente, barracas de comida, artesanato e artes, além de música ao vivo e apresentações artísticas, tomam conta da Rua Schaumainkai e seus arredores.
Por ali, a grande estrela, em qualquer época do ano, é o Städel Museum, que, desde 1815, abriga uma rica coleção de 3 mil pinturas, 600 esculturas e 100 mil desenhos datados a partir do século 14 até hoje. Alguns dos nomes ilustres são Botticelli, Rembrandt, Vermeer, Degas, Monet, Cézanne e Picasso. Os museus vizinhos cobrem temas mais específicos: no Giersch Museum, você vê um pouco mais de arte com foco em trabalhos locais, enquanto no Liebieghaus reinam as esculturas, do Egito ao Extremo Oriente, da Idade Média ao Renascimento. O Museu Alemão de Arquitetura, por sua vez, faz um panorama da evolução arquitetônica no mundo, e o Museu da Comunicação abrange desde as inscrições em tábuas na Mesopotâmia até a criação de novas mídias.
Aí vem o Museu do Cinema, que conta a história da sétima arte, recriando cenários e explorando efeitos especiais. Para fechar, tem o Weltkulturen Museum (com coleção de artefatos de todos os continentes), o Museu de Artes Aplicadas (dedicado ao design e ao artesanato) e o Ikonen-Museum (com imagens sacras do cristianismo ortodoxo). Aos sábados, a Schaumainkai fica especialmente cheia por causa do mercado de pulgas, que reúne antiguidades e objetos de segunda mão, entre bicicletas, roupas e itens de decoração. Para além da margem do rio, o Museu de Arte Moderna (MMK) divide seu acervo de 5 mil peças em três prédios, dos anos 1960 em diante – dois ficam no centro histórico, e outro, no distrito financeiro. Quem falou que Frankfurt era só um corredor de passagem?
Um dos pontos turísticos mais visitados de Frankfurt é a Goethehaus, onde o escritor Johann Wolfgang von Goethe nasceu em 1749. Destruída na Segunda Guerra, a bela mansão burguesa foi reformada e convertida em museu para abrigar objetos e livros originais da família, em cômodos que reproduzem os originais. Foi lá que Goethe escreveu Fausto e O Sofrimento do Jovem Werther. No terreno ao lado, está sendo construído o Museu Alemão do Romantismo, dedicado ao gênero literário do qual Goethe foi um dos principais expoentes.
Onde se hospedar em Frankfurt, Alemanha?
FRANKFURT
NH
A uma curta distância do centro histórico, tem 256 quartos de padrão executivo.
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