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Wanaka: esqui e vinhos na Nova Zelândia

Enquanto esperamos na fila de uma hamburgueria gourmet-orgânica, o rapaz de cabeleira desgrenhada e descalço devora o seu sanduíche vegano. Dali, com nossos hambúrgueres para viagem, seguimos até uma cervejaria artesanal e assim completamos as compras para o nosso piquenique à beira-lago. Já passou das 21h e o sol só agora começa a se pôr – é verão na Nova Zelândia. Um dia quente e comum em Wanaka, pequena cidade que atrai desde fanáticos pela turma do Frodo até trilheiros bem-aventurados, é um resumo fiel do país como um todo.

Wanaka fica a uma hora de Queenstown, cidade da Ilha Sul celebrada pela paisagem alpina e pelas atividades radicais. Foi ali, em Queenstown, que nasceu o bungee jump, com salto de 43 metros na ponte Kawarau. Pelas trilhas entre mata e montanha de Wanaka já passaram pés peludos e cajados mágicos. É que, juntamente com outras áreas do país, a região conhecida como Southern Lakes serviu de cenário para as trilogias O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Por isso, sobram tours temáticos para seguir os passos de Ganfald, Bilbo Bolseiro e cia. Quem vem no verão consegue aproveitar uma série de atividades ao ar livre, como caminhadas e pedaladas. No inverno, surge a chance de esquiar e fazer snowboard no Cardrona Resort (que, fora da temporada de neve, ganha circuitos de mountain bike e divertidas pistas de kart). Vinhos completam o leque de atrações em qualquer época do ano.

 

Cardrona Resort (foto: divulgação)

 

Seja qual for o passeio, a dupla formada pelos lagos Wanaka e Hawea é sempre a estrela – o primeiro é notório por conta da árvore que se ergue solitária dentro da água. Em volta deles, os Alpes do Sul atingem mais de que dá nome ao parque nacional ao seu redor. A área é muito procurada para trilhas (existem cabanas disponíveis para pernoite), mas a melhor forma de ter noção real do tamanho e da beleza de toda essa paisagem é vendo de cima. Para isso, e para quem tem orçamento de viagem gordo, há roteiros que combinam sobrevoo de helicóptero com caminhadas e passeios de jetboat. A empresa Wilkin opera a excursão Siberia Wilderness Adventure, saindo do vilarejo de Makarora. A estrada de Wanaka até lá margeia o lago enquanto revela belos ângulos ao longo de uma hora.

 

Lago Wanaka com a árvore solitária (foto: shutterstock)

 

Mas é quando o helicóptero levanta voo que os olhos de fato se enchem e o frio invade a barriga. Por 20 minutos, passamos por rios, florestas, montanhas, geleiras e lagos escondidos entre os picos. Ao aterrissar no Vale Sibéria, vemo-nos rodeados pelos montes nevados da Terra Média – é como se a galera da Sociedade do Anel fosse aparecer a qualquer momento. E a sensação continua durante toda a caminhada de três horas que se inicia ali, saindo das margens do Rio Wilkin para adentrar a mata. Ao final da andança, somos recompensados com um belo piquenique-churrasco à sombra das árvores, com hambúrguer de carne de veado (caçado ali mesmo, naquela manhã) e as famosas fritadas de peixinhos neozelandesas.

O retorno fica a cargo do jetboat, um barco rápido movido a jatos de água – por não ter hélice, ele é capaz de passar
por rios rasos, como é o caso destes que se formam com o derretimento da neve das montanhas. O trajeto é com emoção, cheio de manobras bruscas. Mas frio mesmo, e no corpo inteiro, é o que a gente sente ao tomar coragem para se molhar nas Blue Pools, perto de Makarora. A água, azulzinha de doer a vista, nos seduz a mergulhar – mas é só saber que a piscina natural vem do degelo de neve para imaginar a temperatura… Talvez baste a emoção de cruzar a passarela que balança em cima da água (há quem pule dali também).

 

Cerca de sutiãs (foto: shutterstock)

 

Bra Fence: Perto da Cardrona Distillery, fica a “atração” mais curiosa de Wanaka: a Bra Fence ou, em bom português, a Cerca dos Sutiãs. Tudo começou nos anos 1990, quando alguém pendurou a primeira peça íntima na grade à beira da estrada – o resto é história e hoje lá se vão mais de 800 modelos de todas as cores e todos os tamanhos.

 

Vinhos em Wanaka

Ao menor sinal de comentários pseudoentendidos durante a degustação, a guia-enóloga é taxativa. “Tentamos não falar de sabores e cheiros, a não ser que você seja um estudioso”, rebate, quando alguém do grupo solta algo sobre notas amadeiradas. “Preferimos falar de texturas, da energia da natureza e de como o vinho faz você se sentir de dentro para fora.”

O discurso meio hippie, meio hipster é o mote da vinícola biodinâmica Rippon, que ocupa as escarpas de um morro com fartos vinhedos. Assim entendemos frio no inverno, prova-se um ótimo terroir por conta da alta e longa incidência de luz, além da posição geográfica e da qualidade do solo. A degustação na Rippon pode até ganhar pontos pela vista, mas é imbatível a simpatia de Sarah-Kate Dineen, proprietária da vinícola Maude. Nesta, o esquema é mais informal: o cliente prova rótulos de Pinot Noir, Chardonnay e Riesling em uma varanda gostosa, com acompanhamento de tábua de frios e, possivelmente, da prosa boa da Sarah.

 

Blue Pools (foto: shutterstock)

 

Red Star (foto: shutterstock)

Também a onda do gim chegou a Wanaka. Na estrada que vai a Queenstown, a destilaria Cardrona, aos pés da estação de esqui de mesmo nome, recebe visitantes em sua lindíssima propriedade para mostrar como é a produção à base de cevada maltada, levedura e água em alambiques de cobre. Se a preferência, porém, for por cerveja artesanal, vale recorrer à Rhyme & Reason Brewery (cujos rótulos casam bem com os hambúrgueres da Red Star, aquela do loiro descalço e vegano). As bebidas locais acompanham, ainda, as refeições nos bons restaurantes do centrinho de Wanaka, como o Ode, que tem menus degustação de até oito pratos com produtos locais e orgânicos, e o Kika, de ótimas tapas e pratos para compartilhar.

Tudo isso reabastece o pique depois de uma pedalada descompromissada ao redor do lago durante o dia – ou dos tours guiados de até 30 quilômetros com a empresa Wanaka Bikes para quem estiver a fim de queimar as batatas. Se for exercício demais, fique com os passeios tranquilos da Eco Wanaka, que navegam pelo lago até a ilha de Mou Waho.

Essa reserva natural serve de santuário para várias curiosos para filar uma boia, e o esquisitão weta, que lembra um grilo gigante e milenar, capaz de sobreviver congelado por semanas. Uma caminhada (as pernas estão sempre trabalhando por aqui) leva até o alto da ilha, onde se esconde um pequeno lago bom para banho. Por ali o visitante planta uma muda como forma de “compensar” o impacto causado na natureza por sua passagem. Subindo mais um pouco, a vista simplesmente embasbaca. Sento numa pedra e deixo os olhos absorverem a paisagem. É quando me vem, pela enésima vez desde que cheguei à  Nova Zelândia, uma frase do filme Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças: “Eu estou exatamente onde eu queria estar”. Com a diferença de que, daqui, agora guardo um milhão de boas memórias.

 

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Onde se hospedar na Wanaka

Edgewater Resort
À beira-lago com ambiente gostoso, tem desde estúdios até apartamentos de dois quartos, todos com cozinha. O restaurante tem vista linda.

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