Trajes típicos da Baviera abarrotam as vitrines, joelhos de porco assam à vista do cliente, canecões de cerveja e salsichas brancas recheiam as longas mesas de madeira dos biergartens… Munique é a síntese da Alemanha: perfeitinha, moderna, cheia de tradições, soprada por ares alpinos. Isso sem falar na incontornável Oktoberfest, que ajudou a trazer fama mundial para a cidade. Além disso, ela é histórica, seja como capital do antigo Reino da Baviera, como sede da trágica Olimpíada de 1972 ou como berço do partido fundado por Hitler. E, de quebra, surge como complemento perfeito para quem faz a famosa Rota Romântica.
O coração turístico é a praça Marienplatz, em cujo centro reluz, a 11 metros de altura, a estátua da Virgem Maria, santa padroeira da Baviera. É onde acontecem o mercado de Natal e as comemorações do time de futebol Bayern – que tem loja de artigos oficiais bem perto dali. De um lado da praça, impõe-se a Velha Prefeitura (Altes Rathaus), hoje transformada em um museu de brinquedo, o Spielzeugmuseum. Mas quem domina mesmo a área é o prédio neogótico da Nova Prefeitura (Neues Rathaus), tão rebuscado que parece até uma igreja. Do século 19, é famoso pelo Glockenspiel, um relógio mecânico com mais de 30 estatuetas que “dançam” enquanto contam a história da cidade. Os “espetáculos” acontecem diariamente, às 11h e 12h (de março a outubro, também às 17h). Para completar, um elevador leva ao alto da torre de 85 metros, de onde a vista alcança até os Alpes em dias claros.
Da Marienplatz saem ruas comerciais exclusivas para pedestres, como a Kaufingerstrasse, onde se reúnem Apple, H&M, C&A e a loja de departamento Kaufhof. Destaque para a Kustermann, um paraíso para quem gosta de coisas para casa, desde decoração até eletrodomésticos. Quem segue por essas vias desemboca no coração gourmet de Munique: o Viktualienmarkt, mercado de rua em atividade há mais de 200 anos. Tem de tudo, entre produtos locais e importados: suvenires, queijos, vinhos, frutas, flores, azeitonas, peixes e a típica schnaps (o equivalente alemão da nossa cachaça)… A praça é rodeada por restaurantes tradicionais e, bem no meio, um biergarten vira ponto de encontro para quem é fã da combinação salsicha + cerveja no verão. Tudo acontecendo sob o típico mastro com emblemas bávaros, conhecido como Maibaum (Árvore de Maio).
Uma boa ideia é encher as sacolas com coisas gostosas no Viktualienmarkt e caminhar um quilômetro para fazer um piquenique no Hofgarten, os jardins públicos do palácio Residenz. Em seguida, já emende a visita a este que é um dos principais cartões-postais de Munique: por 500 anos desde o século 16, o Residenz foi a sede do governo bávaro, abrigando duques e reis da dinastia Wittelsbach. Totalmente reconstruído depois da Segunda Guerra, hoje abre a visitantes como um complexo de museus. É possível ver os aposentos reais, acervo de obras de arte, o tesouro da realeza (com cristais, marfins, joias, coroas e louças) e uma enorme coleção de moedas. Entre os destaques, estão a sala de concertos Hercules Hall, que ocupa o antigo salão do trono; o Antiquarium, uma rebuscada galeria renascentista do século 16; e o Cuvilliés, teatro rococó que sediou estreias de Mozart.
Outro palácio famoso de Munique é o barroco Nymphenburg, que era a residência de verão da família real, a oito quilômetros do centro. A versão alemã de Versalhes é uma das maiores da Europa. Os visitantes chegam ansiosos para ver os aposentos onde nasceu o “rei louco” Luís II, o mesmo que mandou erguer o castelo de Neuschwanstein. E ainda se destacam o Steinerner Saal, um salão repleto de afrescos; a Galeria das Belezas, que reúne uma série de retratos de mulheres; e coleções de carruagens e de porcelanas que eram fabricadas ali. Os belíssimos jardins reúnem uma antiga casa de banho usada pela corte e o palacete rococó Amalienburg, conhecido por seu salão dos espelhos. Pode-se até, no verão, fazer um passeio de gôndola pelo canal central.
Mas o verdadeiro respiro verde de Munique é o Englische Garten, atrás do Residenz. Acompanhando o Rio Isar, tem ciclovia e pista de jogging, campos de futebol, casa de chá japonesa, restaurante, biergarten ao lado da enorme torre chinesa e o Monopteros, templo de inspiração grega de onde se tem uma bela vista da cidade. Agora, uma anedota curiosa: o parque conta com área nudista e até onda para surfar – o Eisbachwelle é um trecho do rio com águas mais agitadas, que virou ponto de encontro para surfistas profissionais.
Olimpíada, BMW e Oktoberfest em Munique
O Englische Garten pode até ser o maior, mas o parque mais legal de Munique é mesmo o Olympiapark, palco dos Jogos Olímpicos de 1972. É verdade que a competição ficou marcada pelos atentados contra atletas israelenses, mas não se pode negar que o legado de infraestrutura para a cidade é de uma qualidade invejável. Vistos de cima, os tetos ondulantes dos ginásios parecem formar um mar metálico em meio a colinas verdinhas, culminando no impressionante e moderníssimo Estádio Olímpico – também palco da vitória alemã na Copa do Mundo de 1974 e casa do Bayern até 2006. Além de abrigar shows de música, a arena hoje conta com atrações radicais, como escalada e tirolesa a 35 metros de altura.
Fora isso, o parque tem, ainda, lago com pedalinho, ciclovias, pista de patinação no gelo, piscinas públicas, “calçada da fama”, espaço para mostras de arte e aquário com mais de 4 mil animais. O ponto alto é a Torre Olímpica (Olympiaturm), com mirante a 190 metros – lá em cima, tem restaurante giratório e um pequeno museu de rock, com memorabilia relacionada a nomes como Freddie Mercury, Pink Floyd e Rolling Stones.
Bem ao lado do Parque Olímpico, fica o museu mais procurado pelos amantes de carros: o BMW Welt. De arquitetura toda futurista, o complexo localizado junto à fábrica da montadora é dividido em duas partes. O showroom, que também Para marcar os 45 anos dos atentados de 1972, acaba de ser inaugurado no Parque Olímpico um memorial em homenagem aos 11 israelenses que viraram reféns de terroristas palestinos faz as vezes de concessionária, tem entrada gratuita e exibe vários modelos produzidos pelo grupo (incluindo Mini e Rolls Royce). A história centenária da marca e a produção em si são abordadas no vizinho BMW Museum, aonde se chega por uma ponte, com ingresso pago à parte. Ali estão exemplares antigos de motos, veículos comerciais e carros de corrida, como o icônico Isetta. É possível fazer passeios guiados tanto no Welt como no museu, passando pela fábrica.
Museu, afinal, é assunto sério em Munique e todos os gostos estarão bem servidos por aqui. Não à toa, existe até um “bairro da arte”, o Kunstareal, próximo ao Englische Garten. Muitas das coleções que um dia pertenceram à Família Real podem ser vistas no Museu Nacional Bávaro, que cobre períodos entre o românico e o art nouveu, com pinturas, cerâmicas, esculturas, mobiliário e instrumentos musicais. Andando pelo distrito, é possível ainda refinar os temas de interesse e escolher o museu que mais lhe agrada: parcialmente fechada para renovações até o fim de 2018, a Alte Pinakothek tem trabalhos europeus dos século 14 a 18, enquanto a Neue Pinakothek é focada em Impressionismo, com muito Renoir, Monet, Cézanne e Van Gogh. Já a Pinakothek der Moderne cobre arte moderna, arquitetura, design e artes gráficas com trabalhos que vão de Da Vinci a Picasso. Símbolo da pop art, Andy Warhol é a estrela do Brandhorst. Antiguidades gregas e romanas se encontram na Glyptothek (dedicada a esculturas) e no Antikensammlung. Tem ainda o Museu de Paleontologia e o Museu Egípcio.
Fora desse miolinho, outros endereços atraem os visitantes, como o interativo Museu Alemão, o maior no mundo dedicado a tecnologia, com temas que vão de agricultura a astronomia, de fotografia a engenharia. E é claro que a bebida mais popular da Alemanha tem seu próprio “templo”: o Museu da Cerveja e do Oktoberfest celebra a história do “alimento líquido” e do famoso festival de Munique.
Mas se é a prática que leva à perfeição, muita gente prefere trocar a teoria dos museus pelas mesas das cervejarias – e isso é algo que não falta em toda a cidade. As mais famosas, como a Augustinerbräu, a Paulaner e Löwenbräu, têm seus jardins de cerveja anexos a restaurantes de especialidades bávaras. Mas a mais popular entre os turistas, indiscutivelmente, é a Hofbräuhäus, que serve pretzels e canecões desde 1644 – e era também ponto de encontro de Hitler e seus partidários nos primórdios do Partido Nacional Socialista, em 1920.
Agora, para mergulhar mesmo na cultura cervejeira, esteja em Munique a partir da segunda quinzena de setembro: é quando começa o Oktoberfest, ao contrário do que o nome do festival possa sugerir. As comemorações nasceram em 1810, como homenagem ao casamento do rei Luís I, e, tornando-se tradição nos anos seguintes, foram sendo adiantadas para setembro por conta do clima mais agradável. Hoje, a festança acontece por cerca de duas semanas na área descampada de Theresienwiese, que é tomada por tendas de diversas cervejarias. Durante todo o dia, são vendidos litros e mais litros para foliões vestidos em trajes típicos da Bavária. Impossível ser mais alemão que Munique.
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MUNIQUE
Stachus
Perto da estação central de trem e a poucos minutos a pé da Marienplatz, tem 73 quartos simples, mas bem estruturados.